„Poema – DepressãoEstive ao seu lado em suasnoites de insôniaE quando você se sentiu sozinhoe clamou aos deusesquem atendeu suas preces fui euCaminhei ao seu ladodurante noites infernaisMas ao contrário da sua sombraeu não te abandonei na escuridãoRoubei a sua almae conquistei a sua féSou o seu novo Deusvocê queira ou nãoFiz ateus dobrarem os joelhose cristãos clamarem pelo diaboDancei na frente de judasquando ele se arrependeupelos seus pecadosTomei o sangue dos seus pulsosquando você o dilacerou pelaúltima vezEu sou o monstro quete impede de viverA voz presa em sua gargantaquerendo fugir desta prisãoA timidez rasgando suas víscerasquando olhos de julgamentote encaram em publicoEu sou a insegurançaque faz você odiar o seu corpoTransformo os seus sonhosem pesadelos terríveisque fariam de mimo seu melhor amigoEu sou a cordaesmagando o seu pescoçoenquanto você se debate em agoniaEu sou os olhares de penaquando colocarem em vocêcamisas de forçaO seu único companheiroquando os remédiosnão fizerem efeitoTe contarei piadas infamesque transformarão suas risadasem gritos de dorE quando tentarem falar de mimpara alguémFarei da sua insegurançaum ninho de incertezasaté que a morte seja sua única amigaVocê irá implorar para queeu te deixe em pazGritará pelas ruas para quetirem a sua vidacomo um ato de misericórdiaFarei com que todos aquelesque te amamse afastem e o deixem no limboE quando na mais negra escuridãovocê se encontrartirarei também as suas esperançasPelas asas podresde Ba‘alo rei das moscas e das pestilênciasDirei o meu nome em segredo…Eu sou aquelediante do espelho!- Gerson De Rodrigues“

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„Poema – CulpaRastejando como um vermepodre neste mundo hostilfedendo a sangue e enxofreFui batizado com a salivado diabo e nomeadopelos deusesA criatura mais insignificantedeste mundoReúnam-se em coletivosmarchem em direção aminha casaCom a suas tochase símbolos da pazMatem-me com violênciaenquanto o meu corpo friodebate-se em êxtasepela dor infligida na minha almaArrastem o meu corpopelas ruas e justifiquemtal ato com louvores e bênçãosCaminhareicom os pés descalçose mãos amarradasEnquanto chicoteiamas minhas costas- Não tenham penadeste homem imundo!A dor que eu fareisenti-los se me deixarem viveré muito maior do queestas feridasEu sou a destruição deste mundoa praga que tanto tememem suas histórias bíblicasA depressão já instauradana parte mais minuciosado seu intimoAs lágrimas que choramsem saber porqueO sentimento de vazio!a solidão que os assombratodas as noites!Sou o culpado por cada mortecada ente querido enterradoneste solo malditoque agora alimentam os vermes- Parem com essas orações- Esses olhares de pena!Continuem com as martirizaçõesatirem pedras em meu corpo nudiante de suas catedraisAcabar com a minha vidasignifica viver mais um dia!- Não querem voltar parasuas casas?- Abraçar os seus filhos?- Rezar para o seu Deus?Se almejam tanto a felicidadeum sacrifício de sangueserá necessárioDiante de todos estes olharesque me encarameu me declaro culpadopor suas doresCrucifiquem-mee atirem fogo em meu corpoPara que nenhum milagrecaia sobre as minhas cinzas…- Gerson De Rodrigues“
„Alegoria do SuicídioEu sei que hoje será o meu último dia na terra, eu decidi isso enquanto caminhava solitário pelas penumbras da noite. Procurei por cada canto daquela vazia avenida, e não encontrei nenhum motivo para existir.Todos os motivos que eu supostamente haveria de encontrar eram mentiras contadas por mim mesmo afim de prolongar o castigo de viver.Voltei para casa, peguei aquela velha corda que ficava guardada na segunda gaveta, amarrei-a sobre o teto, e me dependurei sobre a miséria.Ali estava eu, debatendo-me enquanto sentia o nó daquela velha corda quebrando cada centímetro do meu pescoço, enquanto a minha alma escapava do meu corpo.Eu me debatia, e meus olhos lacrimejavam-se, talvez, fossem lágrimas de arrependimento. Mas agora já era tarde demais…Eu morri e minha alma caiu de joelhos diante da figura de um homem, aquele era eu, uma versão mais madura de mim que já havia passado por todos esses momentos de dor e agonia.Acreditei por alguns segundos, estar diante da morte, pois o meu corpo ainda estava ali dependurado sobre a sala de estar.Caminhei lado a lado com aquele homem misterioso, que com os dedos apontou para as estrelas e com uma voz suave ele me disse:- Se algum dia o desejo da morte gritar em seu rosto, não aperte o gatilho! Pense nas estrelas, elas morrem não porque elas querem, e sim porque chegou a hora.Viver sozinho é como mergulhar no infinito e voar até o céus tocando as nuvens e as estrelasEstar sozinho é como voltar no tempo e sentir-se novamente uma criança ou um deus a vagar pelo cosmosAndar sozinho é como viajar até o paraíso acompanhado por anjos ou dançar no inferno acompanhado por diabosViver sozinho… é também sentir a navalha cortar seus pulsos enquanto seu sangue jorra em alto mar é sufocar-se nas próprias lágrimas até que o seu pulmão se encha de sangue e a luz dos seus olhos se apagueSobreviver sozinho é renascer do castigo de existir é limpar o sangue com as próprias mãos é caminhar mesmo quando já não existe mais chão é matar quando não te oferecem perdão é amar a si mesmo por compaixãoÉ viver sendo o único deus na escuridão…“
„Poema - 1 Reis 19:3-4Sinfonias tristesvagam pelo universocomo as lágrimas nos olhosdaqueles que sofrem em silencioAcolhida pelas trevase renegada pelos deusesLilith havia sido amaldiçoadacom um abismo em seu coraçãoA sua vidaera como uma alegoria ao suicídioEnforcava-se na escuridãotodas as vezesque não conseguia encontrara luz das estrelasSentindo-sesozinha em um mundodo qual não escolheu viverTrancafiada nos cárceres privadosda sua própria menteera assombrada pelos mais terríveis demôniosAs paredes do seu quartojorravam o sanguedas suas tentativas de suicídioEmbora as suas lágrimasclamassem pela salvaçãodaquele terrível abismoA sua essênciabanhava-se na escuridãoEm seus olhos habitavamo desejo de dilacerar os seus punhosenquanto afogava-se em uma banheirarepleta de sangue e lágrimasMas em seu coraçãohaviam as chamas negras de uma fênixque renascia a cada segundoEntão ela se enforcavaem seus sonhos sublimesDeitava-se na camacom os olhos fechadosimaginando-se dependuradaenquanto matava as suas doresE ao abrir os olhosrepletos de lágrimashavia renascido mais uma vezAs feridas em seu peitoespalhavam-se como um câncerGritos ensurdecedores emanavamdas janelas daquele quarto hostil– Já tive o bastante, Senhor!matem-me sem nenhum perdão!pois não estão matando uma alma inocenteapenas crucificando as suas doresMas quem poderia escutá-la?quem poderia salvá-la?Não se pode salvar uma almaque sorri para o abismoe se banha em seu próprio sangueGritando aos deusesela sorriu pela ultima vezenquanto as suas angustiastornavam-se sinfonias tristesA vagar pelo universocomo as lágrimas nos olhosdaqueles que sofrem em silencio…- Gerson De Rodrigues“