„CAPÍTULO C   “TU SERÁS FELIZ, BENTINHO”   No quarto, desfazendo a mala e tirando a carta de bacharel de dentro da lata, ia pensando na felicidade e na glória. Via o casamento e a carreira ilustre, enquanto José Dias me ajudava calado e zeloso. Uma fada invisível desceu ali, e me disse em voz igualmente macia e cálida: “Tu serás feliz, Bentinho; tu vais ser feliz.” – E por que não seria feliz? perguntou José Dias, endireitando o tronco e fitando-me. – Você ouviu? – perguntei eu erguendo-me também, espantado. – Ouviu o quê? – Ouviu uma voz que dizia que eu serei feliz? – É boa! Você mesmo é que está dizendo… Ainda agora sou capaz de jurar que a voz era da fada; naturalmente as fadas, expulsas dos contos e dos versos, meteram-se no coração da gente e falam de dentro para fora. Esta, por exemplo, muita vez a ouvi clara e distinta. Há de ser prima das feiticeiras da Escócia: “Tu serás rei, Macbeth!” – “Tu serás feliz, Bentinho!” Ao cabo, é a mesma predição, pela mesma toada universal e eterna.“

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