„O que posso falar de Dorothea? Eu a conheci quando eu estava na escola, e descobri a garota que estava destinada a ser minha mulher. Tínhamos um relacionamento tempestuoso e terminamos várias vezes no início dos anos 80. Confesso que em 1986 se eu fosse obrigado a escolher entre ela e a minha música, eu escolheria a minha música. Agora, isto mudou.. é verdade, pois eu diria que a minha família é o meu greatest hits agora. A música será sempre meu primeiro amor, porque me trouxe tudo que eu tenho na vida, mas não é mais meu único amor.”. Fico feliz de conhecer Dorothea por quase toda a minha vida e não nos últimos dois anos. Se eu a tivesse conhecido agora, provavelmente lhe perguntaria o porque dela estar comigo, pois ela definitivamente não é a esposa de um rock star. Ela não quer um relógio novo ou um carro luxuoso, ela se importa apenas com o que eu faço, mas não está interessada na minha pessoa como um rock star. Lembro que quando eu era um adolescente e trabalhava num estúdio de gravação, o ídolo da adolescência dela, David Bowie, foi a esse estúdio. Eu liguei para ela e perguntei se ela não gostaria de lá ir para conhecê-lo, mas ela simplesmente não quis. Dot nunca sairia em turnê comigo, ela preferiria ficar em casa e cuidar das crianças. Sou eu que gosto de leva-la comigo. Eu continuo morrendo de tesão por ela! Posso fazer uma cena de cama com a Demi Moore ou com tantas outras atrizes, como já fiz e curtir isso, mas nenhuma delas é a mulher que eu quero para ter em minha casa.“
„Eu nasci numa família muito ligada à política. Agora, eu depois me rebelei contra isso, inclusive eu fui para a Universidade e praticamente só fazia estudar, essa coisa toda. Eu diria que… mais tarde eu voltei a me preocupar com a questão política, quando já era, enfim, depois da adolescência, quando tava na Universidade ainda, mas daí eu fui para a Esquerda, né, então eu tinha ligação com o pessoal do Partido Comunista. Na época eu ajudei, eu escrevia pra revista brasiliense que era do Caio Prado e do Elias Chaves Neto, e essa não era do Partido Comunista, mas era ligada, tendência. E eventualmente para o jornal Fundamentos, esse sim, era do Partido Comunista. Até que veio a questão da Hungria, a invasão da Hungria, o relatório Khrushchov, então pá, acabou tudo isso. E eu passei um longo período, enfim, outra vez, voltando só para os estudos. E depois eu, de alguma maneira, fui engolfado pela política por causa do regime militar; porque fui, enfim, obrigado a sair do Brasil. Eu não estava ligado a nenhum partido naquela ocasião. Meu pai tinha sido deputado federal pelo PTB, pelo partido trabalhista. Eu conhecia as pessoas e tal, mas eu não estava em nada disso. Eu estava na Universidade, querendo modernizar a Universidade e veio o golpe. No começo eu nem imaginei que fosse acontecer alguma coisa de mais grave, mas como eu tinha muita presença nas lutas da Universidade, eu era membro do conselho universitário, tinha sido eleito contra a direita universitária e tal, eles achavam que isso significaria alguma ligação de outra natureza e eu fui obrigado a sair do Brasil. Aí, exílio, ditadura. Então, isso é o que me levou, de novo, a ter uma participação mais ativa na política.“
„Stendhal, desde infância, amou as mulheres sensualmente; projetou nelas as aspirações de sua adolescência; imaginava-se de bom grado salvando de algum perigo uma bela desconhecida e conquistando-lhe o amor. Chegando a Paris, o que desejava mais ardentemente era “uma mulher encantadora; nós nos adoraremos, ela conhecerá minha alma”… Velho, escreve na poeira as iniciais das mulheres que mais amou. “Creio que foi o devaneio que preferi a tudo”, confia-nos ele. E são imagens demulheres que lhe alimentaram os sonhos; a lembrança delas anima as paisagens. “A linha de rochedos aproximando-se de Arbois, creio, e vindo de Dôle pela estrada principal, foi para mim uma imagem sensível e evidente da alma de Métilde.” A música, a pintura, a arquitetura, tudo o que amou, amou-o com uma alma de amante infeliz; quando passeia em Roma, a cada página, uma mulher aparece; nas saudades, nos desejos, nas tristezas, nas alegriasque elas suscitaram-lhe, conheceu o gosto do próprio coração; a elas é que deseja como juizes. Freqüenta-lhes os salões, procura mostrar-se brilhante aos seus olhos, deveu-lhes suas maiores felicidades, suas penas; foram sua principal ocupação. Prefere seu amor a toda amizade e sua amizade à dos homens; mulheres inspiram seus livros, figuras de mulheres os povoam; é em grande parte para elas que escreve. “Corro o risco de ser lido em 1900 pelas almas que amo, as Mme Roland, as Mélanie Guibert…” As mulheres foram a própria subsistência de sua vida. De onde lhe veio esse privilégio? Esse terno amigo das mulheres, e precisamente porque as ama em sua verdade, não crê no mistério feminino; nenhuma essência define de uma vez por todas a mulher; a idéia de um “eterno feminino” parece-lhe pedante e ridículo. “Pedantes repetem há dois mil anos que as mulheres têm o espírito mais vivo e os homens, mais solidez; que as mulheres têm mais delicadeza nas idéias e os homens, maior capacidade de atenção. Um basbaque de Paris que passeava outrora pelos jardins de Versalhes concluía, do que via, que as árvores nascem podadas.” As diferenças que se observam entre os homens e as mulheres refletem as de sua situação. Por exemplo, por que não seriam as mulheres mais romanescas do que seus amantes? “Uma mulher com seu bastidor de bordar, trabalho insípido que só ocupa as mãos, pensa no amante, enquanto este galopando no campo com seu esquadrão é preso se faz um movimento em falso.” Acusam igualmente as mulheres de carecerem de bom senso. “As mulheres preferem as emoções à razão; é muito simples: como em virtude de nossos costumes vulgares elas não são encarregadas de nenhum negócio na família, a razão nunca lhes ê útil… Encarregai vossa mulher de tratar de vossos interesses com os arrendatários de duas de vossas propriedades; aposto que as contas serão mais bem feitas do que por vós.” Se a História revela-nos tão pequeno número de gênios femininos é porque a sociedade as priva de quaisquer meios de expressão: “Todos os gênios que nascem mulheres estão perdidos para a felicidade do público; desde que o acaso lhes dê os meios de se revelarem, vós as vereís desenvolver os mais difíceis talentos.” O pior handicap que devem suportar é a educação com que as embrutecem; o opressor esforça-se sempre por diminuir os que oprime; é propositadamente que o homem recusa às mulheres quaisquer possibilidades. “Deixemos ociosas nelas as qualidades mais brilhantes e mais ricas de felicidade para elas mesmas e para nós.” Aos dez anos, a menina é mais fina e viva do que seu irmão; com vinte, o moleque é homem de espírito e a moça “uma grande idiota desajeitada, tímida e com medo de urna aranha”; o erro está na formação que teve. Fora necessário dar à mulher exatamente a mesma instrução que se dá aos rapazes.“
„Poema – Diário de um homem que nunca existiu‘’ Como um sátiroque dança aosom dos meus gritos de misericórdiaexterminarei todos ao meu redorLentamente como as lágrimasque caem dos meus olhossem piedade estriparei a todosE até que a cólera da depressãoe o tormento da ansiedademe transforme em um mártirnenhum de vocês terão paz!Declaro nestes versoso suicídio de todos os homens!’’Infância;Ainda que em meusprimeiros anos de vidaeu já podia assistir o meu futuro em ruínasIsolado nas sombrasfui corrompido por uma timidezque rasgou o meu coraçãoe dilacerou a minha almaSem desistir busqueirefugio em templos sagradosMas fui obrigado a assistirfreiras e padres se enforcaremem suas próprias tripascom medo da dorque viam em meus olhosAdolescência;Do sangue que escorriados meus pulsosencontrei a rebeldiapara selar a minha dorCom as minhas próprias mãosenfrentei o mundo em nome da anarquiaAinda que as lágrimas estivessemem meus olhoseram os meus pais quem sofriaSufocado pela angustia de existirme enforquei em meu próprio quartoenquanto lúcifer gargalhava em silêncioVida adulta;Com marcas em meu corpoque fariam cristo chorarsobrevivi a cada tentativa de suicídioOntem enterrei a minha mãeno tumulo ao lado do meu paiA solidão é minha última companhiamas quando eu preciso delaé a depressão que me acolheVivendo como um vermeem meio as ovelhasCaminho pelas ruas como um estranhoperdido em seu próprio infernoSuicídio;sentado em meio as baratasobservo fotografias antigasque remetem a um passado sórdidoQuando eu ainda era um monstrorasgando o ventre da minha mãeSe a minha féfosse tão forte quantoas minhas doresDobraria meus joelhose clamaria aos céuspara que devolvessem as asas de lúciferE beijando as patas do diaboselaria um pacto de sangueMe enforque no ventre da minha mãepara que ela nunca mais precise sofrer de novo- Gerson De Rodrigues“