„Mestre, meu mestre querido!Coração do meu corpo intelectual e inteiro!Vida da origem da minha inspiração!Mestre, que é feito de ti nesta forma de vida?Não cuidaste se morrerias, se viverias, nem de ti nem de nada,Alma abstrata e visual até aos ossos,Atenção maravilhosa ao mundo exterior sempre múltiplo,Refúgio das saudades de todos os deuses antigos,Espírito humano da terra materna,Flor acima do dilúvio da inteligência subjetiva…Mestre, meu mestre!Na angústia sensacionista de todos os dias sentidos,Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,Eu, escravo de tudo como um pó de todos os ventos,Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!Meu mestre e meu guia!A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,Natural como um dia mostrando tudo,Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.Meu coração não aprendeu nada.Meu coração não é nada,Meu coração está perdido.Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!Depois tudo é cansaço neste mundo subjetivado,Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relentoPela indiferença de toda a vila.Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,E eu, por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.Depois, mas por que é que ensinaste a clareza da vista,Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?Por que é que me chamaste para o alto dos montesSe eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?Por que é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer delaComo quem está carregado de ouro num deserto,Ou canta com voz divina entre ruínas?Por que é que me acordaste para a sensação e a nova alma,Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquelePoeta decadente, estupidamente pretensioso,Que poderia ao menos vir a agradar,E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!Feliz o homem marçanoQue tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada,Que tem a sua vida usual,Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,Que dorme sono,Que come comida,Que bebe bebida, e por isso tem alegria.A calma que tinhas, deste-ma, e foi-me inquietação.Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo.Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir.“
„Alegoria do SuicídioEu sei que hoje será o meu último dia na terra, eu decidi isso enquanto caminhava solitário pelas penumbras da noite. Procurei por cada canto daquela vazia avenida, e não encontrei nenhum motivo para existir.Todos os motivos que eu supostamente haveria de encontrar eram mentiras contadas por mim mesmo afim de prolongar o castigo de viver.Voltei para casa, peguei aquela velha corda que ficava guardada na segunda gaveta, amarrei-a sobre o teto, e me dependurei sobre a miséria.Ali estava eu, debatendo-me enquanto sentia o nó daquela velha corda quebrando cada centímetro do meu pescoço, enquanto a minha alma escapava do meu corpo.Eu me debatia, e meus olhos lacrimejavam-se, talvez, fossem lágrimas de arrependimento. Mas agora já era tarde demais…Eu morri e minha alma caiu de joelhos diante da figura de um homem, aquele era eu, uma versão mais madura de mim que já havia passado por todos esses momentos de dor e agonia.Acreditei por alguns segundos, estar diante da morte, pois o meu corpo ainda estava ali dependurado sobre a sala de estar.Caminhei lado a lado com aquele homem misterioso, que com os dedos apontou para as estrelas e com uma voz suave ele me disse:- Se algum dia o desejo da morte gritar em seu rosto, não aperte o gatilho! Pense nas estrelas, elas morrem não porque elas querem, e sim porque chegou a hora.Viver sozinho é como mergulhar no infinito e voar até o céus tocando as nuvens e as estrelasEstar sozinho é como voltar no tempo e sentir-se novamente uma criança ou um deus a vagar pelo cosmosAndar sozinho é como viajar até o paraíso acompanhado por anjos ou dançar no inferno acompanhado por diabosViver sozinho… é também sentir a navalha cortar seus pulsos enquanto seu sangue jorra em alto mar é sufocar-se nas próprias lágrimas até que o seu pulmão se encha de sangue e a luz dos seus olhos se apagueSobreviver sozinho é renascer do castigo de existir é limpar o sangue com as próprias mãos é caminhar mesmo quando já não existe mais chão é matar quando não te oferecem perdão é amar a si mesmo por compaixãoÉ viver sendo o único deus na escuridão…“
„Poema – 11/02/1963Canções negrastransformam almas vaziasem deuses ou suicidas!Quando encontrarem o meu corpoatendam o meu último pedidoNão enxuguem as lágrimas em meus olhospois nelas estão todos os meus sonhos;Quem sou eu?senão o pior de todos os homensAs feridas nas mãos de Cristoe o sorriso de Judas ao vê-lo morrerAbdiquei-me de todas as coisasos meus martíriosreduziram-me a nadaDeitado nesta camaadoeço todas as noitesReviro-me de um ladopara o outrocom a escuridãome engolindo a cada segundoGrito por ajudamas aqueles que podem me ouvirtampouco podem compreenderas minhas doresTento me levantarcom as minhas próprias pernasmas as minhas asas quebradasprendem-me em meu próprio abismoRecolho-me como umacriança solitáriaAbraço as minhas próprias pernas aos prantose chorando pergunto a mim mesmo- Por que nasceste?oh criatura infernalVejo em mim todas as pragase todas as doresComo uma doençaque se espalha pelo mundoeu mato todas as florespara sangrar em seus espinhos;Como eu posso me olhar no espelho?se nem mesmo sei quem eu souComo eu posso me levantar?se o meu espirito se enforcouem meio aos lençóisAs minhas dores se espalhampor todos os cantos da casaEscrevo uma cartapara todos aqueles queacredito que sentiriam a minha faltaCom os pés sujos de sanguenem mesmo a solidãocaminha ao meu ladoEnforco-me aonde ninguémpode me ouvir gritarSinto as cordas quebrandoo meu pescoçolevando as minhas ultimas dorespara o vale dos suicidas;Uma voz doce clama pelo meu nomeum anjo tão beloquanto as estrelas que brilham na escuridãome acolhe em seus braçosDeito-me em suas pernase suas mãos docesenxugam as lágrimas em meus olhosEu me enforquei naquele quartopara renascer na sua vida…“
„Poema – Vozes e Goétia ‘’ Se todos os meus pensamentosFossem revelados ao mundoPedófilos, estupradores, e ditadoresSeriam considerados santos Diante da minha misériaAh em mim tanta podridãoQue as lágrimas que escorremDos meus olhos causam náusea aos Deuses’’- Não ouviram falar do homem louco?Que arrancou os seus tímpanos com as unhasE com eles nas mãos em plena manhãLançou-se em meio à multidão gritando – Não estão escutando estes sussurros?- As janelas batendo ao vento?- Andem matem uns aos outros e enforquem-se até queA sua alma pare de gritar!E lá,Em meio à praça publicaEnquanto gritava como um lunáticoEncontrou homens e mulheresProntos para julga-loHaviam aqueles que zombavam das suas roupasPorque eram velhas e surradas Outros gargalhavam sobre a cor da sua peleE também haviam aqueles que zombavam do seu cabeloE como se não bastassem!Jogavam no homem loucoFrutas podres, pedras e pedaços de pauEnquanto zombavam tambémDa sua sexualidadeO homem louco perdido em meio a multidãoChorava e gritava para que aqueles que o cercavamPudessem ajuda-lo a cessar as vozes na sua cabeça.- E o que aconteceu com o homem louco?Deves estar se perguntando!Naquela mesma noite Refugiou-se em meio as colinasTrancafiou-se no mais terrível abismoE nunca mais foi vistoMas dizem as lendasRogadas por Padres, Poetas e FilósofosQue o homem loucoArrancou os seus próprios olhos com uma colherPara que nunca mais pudesse se olhar no espelhoEntão ele ateou fogo em seu cabeloPara que nunca mais pudessem zombar deleDilacerou até mesmo suas genitáliasE rasgou sua pele com as unhas Para que nenhuma alma Possa julga-lo novamenteDizem que até hoje Ele se arrasta com os seus tímpanos nas mãosAtrás de almas perdidas como a sua Implorando para que cessem as vozes na sua menteMas as vozes nunca cessaramElas sempre estiveram láComo uma assombraçãoPerseguindo-o por todos os cantosTal como as vozesNa sua cabeça…- Gerson De Rodrigues“
„Poema – 37° Phoenix‘’A Maior mentira queeu já escuteifoi quando Judas me disseque havia cuspido na carade um homem SantoSanto?aonde estão todos os santos?senão embaixo do tumulode todos os homens! ’’Existem tantas formas de se suicidarmas nenhuma delas é tão cruelquanto assistir a si mesmo morrertodas as noitesHá tanta luzsobre os meus olhos cegosque eu só consigo enxergar a escuridão- Não percebem estes ratos sujosse alimentando dos meus despojos podres?- Não conseguem escutar os meussussurros de desespero?Estes gritos em forma de lágrimassão para o diabo como sinfonias de sangue- Se afastem de mimquando eu estiver pronto para morrer!Não me venham comas suas poesias de amorou orações de mentirasEu assisti cristo ser enforcadonos sonhos e ilusõesde um poeta apaixonadoNão amem as minhas palavrastemam por suas vidaspois em cada verso deste poemahá uma dor que jamais desejariam compreender.” Há uma criança inocente quevive em meu coraçãoTodas as manhãs ela acordapara brincar com os deusesO Sorriso em seu rostoe o brilho em seus olhosofusca o desespero que habita em seu coraçãoDurante os dias mais clarosela canta e dança por todos oscômodos da casaE sem que percebamdistraídos pela sua bela cançãoA inocente criança se enforcaesbanjando pela última vezSeu belo e inocente sorriso;Há uma terrível criatura quevive em meu coraçãoTodas as noites ela acordade um suicídio para brincar com o diaboAs lágrimas em seus olhose o ódio estampado em seu rostoofusca a profunda vontade deviver que habita seu coraçãoDurante as noites mais sombriasela canta e dança por todoscômodos da casaIncomodada pela suaterrível cançãoA criatura se enforcaesbanjando pela última vezsua profunda vontade de viver…- Gerson De Rodrigues“
„O Duplo – Uma Alegoria NiilistaSentado em seu quarto com a corda nas mãos, o filósofo exausto enfrentava seu lado obscuro.Não suporto mais as dores que me afligem, aonde se escondem as motivações? Estariam elas enterradas junto ao tumulo de deus?Disse o filósofo em um tom sereno, sozinho, naquele quarto abandonado, andando de um lado para o outro― Então desista! O Que te impede de colocar a corda sobre o pescoço e se deleitar com a morte?Diziam as vozes em sua menteCale-se!! Deve existir algum motivo, alguma razão, alguma circunstância para se viver. Algo tão solido, que as dores que afligem meu coração não me torne um escravo da melancoliaGritou o filósofo arremessando a corda para longe― Mas você não encontrou certo? Estas inexplicáveis dores te assombram desde a infância, e a muito tempo vem mentindo para si mesmo que isso ou aquilo é o que te mantem vivo. E agora? O que restou? Todos que você um dia amou não passam de cadáveres!Disse a voz em um tom fino e calmoMas (…) eu ainda tenho os meus livros. O Que me diz sobre eles? Meus trabalhos serão lembrados para sempre! Um filósofo não é útil vivo…Dizia o Filósofo enquanto pegava uma de suas obras nas mãos, sentindo orgulho de si mesmo.A voz doce, fala calmamente em seu ouvido― O Que é a filosofia? Se não aforismos da mente de um grupo de primatas na fração de um ponto. Não seja egoísta, nós dois sabemos que um dia toda a realização da humanidade irá desaparecer no tempoCom esse pensamento aonde iremos? Se todos pensarmos assim, todo o conhecimento da humanidade irá parar no tempo, o que sugere? Pensas que tem a resposta para tudo? Acha que morrer é a solução?Disse o filósofo encarando o espelho― Eu? Eu não posso sugerir nada, não se esqueça que está sozinho, sempre esteve, e assim morrerá! Chegou ao ponto de delirar e discutir consigo mesmo! Ainda acha que um homem louco gritando sozinho em um quarto vazio merece viver? Se tudo que tem de valor em sua vida patética são livros, eu é que te pergunto…O Que sugere?Não há nenhuma sugestão, nenhuma forma de resolver isso, a não ser no leito de morte.― Então continue, vá em frente, coloque as cordas sobre seu pescoço e desista!O Filósofo caminha até o canto do quarto, pega a corda, e a coloca sobre o seu pescoço― Você nunca foi nada, nunca poderá ser nada, e este é o seu destino, morrer como um nada!Cale-se…Disse o filósofo em voz baixa, enquanto ajeitava a corda em seu pescoço. Ele então caminha até o espelho e o encara por alguns minutos…― Há um intrínseco Niilismo em nossas vidas…Disse a voz em sua mente, de maneira tão suave que a própria escuridão o abraçouEssa não é a nossa primeira discussão, e não será a última…Disse o filósofo ainda encarando o espelho com a corda no pescoço― Então a dor passou não é? Flertar com a morte sempre cura as mais profundas feridas.Passou (…) agora sinto a melancolia preenchendo todo o meu ser― Talvez, o grande significado por trás da vida humana, seja simplesmente alimentar os vermes em nosso leito de morte.Parte em ser Niilista, é compreender nosso lugar no cosmos. Nós não significamos nada, e a vida é repleta de dor e sofrimento.O Niilismo, te entrega a chave do conhecimento para compreender esses fatos e seguir em frente, flertamos com o suicídio, mas não nos suicidamos, pois compreendemos a realidade ao nosso redor.“
„Poema – O Mártir dos desajustadosVocê já sentiucomo se houvesse um buraco em seu peitoacompanhado de uma dor que te sufocae cega os seus olhosimpedindo-o de ver a felicidadeUma tristeza tão profundacapaz de partir a sua alma ao meioe corroer os despojos podres da carneComo se cada átomo do seu corposofresse tão profundamentetodas as dores do mundoE ainda que as suas conquistas pessoais se realizasseme os deuses o perdoassem pelo seus pecadoso martírio que corrói as entranhas do seu sero impedem de sorrirao menos uma vez…Não se preocupemestas dores que sentemesse vazio em seu peito que não consegues explicarÉ a doença rogada pelos deusessobre a carcaça podre dos homens malditosAbracem a sua dorsintam-na nas suas entranhasdeixem as suas feridas sangrareme afogarem o mundo em sua misériaNão há nada de erradoem flertar com a morte em momentos de dorNão há nada de erradoem sentir-se excluído em um mundodo qual não pertencesNão existe nada de errado em ser diferente,essa voz gritando na sua cabeça,essa raiva pulsando em seu coração,e aquela maldita vontade de mudar o mundoé exatamente isso que te torna único!Em um mundo de ovelhas,orgulhe-se de ser um bode!Nós não somos monstrosporque sentimos na solidão o abrigo para a nossa loucuraCaminhei solitário por ruas lotadas,de pessoas vazias e mentes fechadase a alegria de não pertencer ao paraíso dos homenssufocavam-me em uma doentia felicidadeAfastem de mim o perdão dos deusese a mentira dos homensEu sou o Deus dos fracosdos desajustadose excluídosO mártir de todas as dorese corações partidosHá em mim a loucura de mil diabose a santidade de todos os deusesTudo o que eu ameiamei recluso em um ninho de ratosaonde nada era sagradoe nada era perfeitomas ainda assim,amei a mim mesmoe todos os meus defeitosFlertamos com a mortepara matar as nossas doresNos suicidamos todos os diaspara que o diaque sucede o de amanhãtorne-se possível de se viverQue a maldição do meu nascimentoe a miséria do meu serse alastre por cada canto deste mundoColoquem-me sobre o altar de suas catedraise chamem-me de cristopois eu sou a luz do mundoe a escuridão que o consome!“
„Homem e o Conhecimento – Uma Alegoria dialética.Certa vez, um filósofo em busca de conhecimento e sabedoria foi ao encontro de um velho Monge, conhecido por seus grandes feitos na literatura e no conhecimento mundial.Esse monge, conhecido como ‘’ Thoth o Sábio’’ Vivia no alto de um monte em uma biblioteca pessoal de livros escritos por ele mesmo.Ao subir o grande monte com muito esforço e dedicação e adentrar os portões de ouro da sagrada biblioteca, o Filósofo se surpreende com aquele velho monge. Que se encontrava sentado em meio aos livros em posição de Lótus expressando tamanha sabedoria.Com cautela, o Filósofo calmamente indaga uma forte questão ao sábio monge. Questão da qual, nunca a ele foi dirigida antes― Como podes um homem tão sábio, possuir tamanha certeza de sua vasta sabedoria? Poderias tu, me guiar a sabedoria do mundo?O Monge, abre calmamente seus olhos que antes estavam fechados e meditando calmamente. Ainda sentado na posição de Lótus, respondeu friamente― Quem eres essa tola alma que ousas dirigir-me a palavra?O Filósofo, ao ser chamado de tolo sorriu de maneira irônica com o canto de sua boca.― Sou apenas um jovem poeta, um velho filósofo, muitas histórias eu escutei sobre ti. Homens que o seguem como um deus, mulheres que o idolatram como um símbolo, crianças que leem seus livros e tornam-se jovens revolucionários. Pensei, se tamanha mente existe, o que seria de mim então? Um tolo. Tu és de fato, o mais sábio dos homens por isso escalei o mais alto dos montes, com o único objetivo de conhecer o mais sábio dos homens.O Sábio monge, orgulhoso de sua vasta sabedoria sendo elogiada por um jovem Filósofo. Se levanta, e caminha a um de seus muitos livros naquela vasta biblioteca. Pega um deles, intitulado ‘’ A Sabedoria do mundo’’ e então, abre em uma página com uma precisa marcação começando então a leitura de sua citação― E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Tudo isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim. E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão, e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria. Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimentoApós escutar tal citação, o Filósofo reconhece que tal pensamento, não poderia ter advindo de tal homem, ele então indagou― Essa citação do seu livro, não eres da Bíblia sagrada? Tenho certeza que eu poderia encontra-la em Jó 12:13.O Monge, cai em gargalhadas. Colocando seu livro sobre uma velha mesa, perguntou ao Filósofo.― E não são os homens diabos copiadores? Todo conhecimento adquirido pelo homem, adveio de outro homem mais sábio.O Filósofo furioso, começa a caminhar por toda a biblioteca pegando todos os livros e abrindo-os de um a um.― Friedrich Nietzsche, Zaratustra, William Godwin, Schopenhauer, mas isso é um absurdo! Como pode se dizer o grande sábio? Se nenhum destes livros foi escrito por você, são apenas ideias de outros homens! Você é uma grande fraude!!Gritava o filósofo enquanto verificava e arremessava cada livro nas estantes.O Monge, ainda mantendo sua plena calma, indaga ao Filósofo uma simples questão.― Poderia me dizer, o que achas sobre Deus?O Filósofo, escutando tal pergunta simples e tola responde rapidamente sem pestanejar― Uma fantasia criada por homens, um mero mito, uma ideia, deus a muito tempo morreu e somos hoje homens da ciência!O Monge caindo em gargalhadas responde― Ainda não percebeu não é? Tudo o que disse, veio de outras mentes eu poderia categorizar sua resposta com o nome e o livro de cada pensador.O Filósofo, escutando tal resposta começa a refletir, refletindo ele responde calmamente― Não… essa resposta veio da minha mente, eu apenas a aprendi ao longo dos anos. No entanto, não me intitulo o grande sábio.― Então poderia me dar uma resposta a respeito da existência de Deus, sem mencionar ou pensar sobre alguma literatura que leu ou aprendeu durante seus longos anos de vida? Perguntou o Monge.O Filósofo caminha de um lado para o outro, seus neurônios queimando como um vulcão― Mas é impossível! Desde os pré-socráticos a mente do homem… vem aprendendo e evoluindo como um coletivo, esse desafio que me propôs é humanamente impossível.Respondeu o Filósofo com uma tonalidade séria em sua voz.O Monge calmamente pega um caderno velho, com anotações por todas suas folhas e entrega nas mãos do Filósofo.― Esta vendo cada anotação? Cada ideia? Todas as ideias que eu tive, toda a reflexão, em algum momento ela nasceu de algum outro homem. Até mesmo Nietzsche se inspirou em Stirner, todos os homens compartilham de uma filosofia coletiva, de uma ciência mental. Não se pode ser sábio, se negar o conhecimento preestabelecido pela humanidade.O Filósofo confuso, vendo tais anotações enquanto sua mente conectava cada referência literária, coloca o caderno sobre a mesa e pergunta― Como um monge, intitulado o sábio, nada mais é do que qualquer outro Filósofo, escritor ou homem que pisou nesse planeta? Me diga, o que diferencia você dos outros homens?O Monge, caminha até o Filósofo enquanto desvia das pilhas de livros, coloca a mão em seu ombro e pede que o siga. Ambos sobem uma escada, que leva ao segundo andar daquela biblioteca. Aonde um grande telescópio apontando para o céu os aguardava― Por favor, veja com seus próprios olhosO Filósofo, se aproxima do telescópio e ao observar a imensidão do cosmos é chocado por uma realidade assustadora. Diante de seus olhos, foram apresentadas incontáveis galáxias, planetas e mundos distantes.O Filósofo é claro, já havia lido em livros de astronomia sobre a imensidão do cosmos, mas nunca de fato o viu com seus próprios olhos.O Filósofo então, ao tornar-se o sábio monge realizou em sua primitiva mente de macaco, que mesmo lendo todos os livros já escritos. O conhecimento realizado pelo homem, de nada importa para o universo.Pois tudo que conhecemos, ou iremos conhecer não passa de um leve suspiro de uma criança que acabou de nascer mas morreu logo depois do parto.A vida, a existência tudo o que conquistamos, ou iremos conquistar. É apenas um grito ecoante de desespero para nos convencer que somos importantes, mas no fundo todos nós sabemos que somos inúteis.O Velho filósofo, tornou-se o sábio monge.Sábio, por reconhecer o seu lugar no nada, como um nada. Pois mesmo com todo o conhecimento do mundo, o nosso mundo é apenas um pontinho luminoso no céu…“
„Poema – Memórias póstumasQuando eu disserque me cansei de todas as coisasnão tentem me salvarDeixem-me cortar os meus punhose sangrar até a luz do meio diaQuando perceberemque já estou mortoTransformem este diaem um feriado santoBatizem os seus filhosem meu sangueExibam o meu corpoem um altar de glória e poderProfiram mentiras em meu nomelembrem-se de memórias das quaiseu nunca viviE tampoucogostaria de tê-las vividoColoquem floressobre o meu tumuloGritem por todos os cantoso quanto sentem a minha faltaDigam‘’Amo-te mais do que todasas coisas’’Enquanto olham as minhas velhasfotografias de momentos dos quaispoderiam ter me dito tais palavras docesSim! Ascendam velasem meu nomeDigam aos meus parentes e amigosque sentem a minha faltaMas por favoresqueçam das vezesdas quais eu estava ao seu ladoEsqueçam de uma vez por todastodos os passos frios que dei porestas ruas vazias e cheias de ódioNão lembrem-se das minhasunhas arranhando estas paredes sujasenquanto clamava por ajudaFechem os olhos e tampem os ouvidostal como fizeram das vezesque supliquei em lágrimasLembrem-se das poucasvezes em que eu fui capaz de sorrirAh (…)quando eu caminharem direção aos vales distantesNão culparei nenhum de vocêspor não compreenderem os meus demôniosApenas deixarei que lembrem-sedas vezes que os transformei em canções poéticaspara os seus ouvidos surdos!Não se preocupem com as lágrimasou com as dores do meu ato finalContinuem rezandopara os seus deuses de mentiraVivendo suas vidas vaziase cheias de fortunaContinuem!suplico que continuem!em suas guerras ideológicasEsqueçam aqueles que como eumorreram abraçando suas próprias pernasEsqueçam-me de uma vez por todasenquanto lembram-sedo homem que eu nunca fui…“
„Poema – Os Pássaros na minha janelaEm meu peito vive uma angustiaque transborda pelos meus olhosRespiro ofegantesentindo um aperto em meu coraçãoO desespero toma conta do meu corpocom as mãos tremendoentro no banheiro aos prantosSem pensar nas consequênciaseu me enforco no chuveiroO meu corpo se debate em agoniaas minhas mãos tremulas tentamse agarrar nos azulejosO chuveiro estourasou arremessado ao chão de joelhose as minhas lágrimas fundem-se com a águaChorando sem saber o que fazereu deito na cama abraçado a solidãoPassaram-se três diase eu ainda não me levanteiVejo o meu corpodefinhar-se com a fomeos meus ossos secarem com a tristezaAs baratas no meu quartosão as únicas testemunhasdo meu fim decadenteLá fora há um pássaroque canta em harmoniaeu poderia morrer agorae seus sussurros me fariam sorrir Com o corpo fracosentindo todo o peso do mundonas minhas costasEm passos leveseu tento caminhar até a janelaAo abri-lame deparo com um mundosombrio e repleto de dorSou arremessado de joelhosnas chamas escaldantesdo meu próprio infernoCaminhando descalçoem meio as chamasEu me vejo enforcadogritando o meu próprio nomeCristo se arrastaao meu lado de joelhosenquanto a minha alma chicoteiaas suas costassó para vê-lo sangrarAo fundoeu vejo a mortedilacerando almas confusascom um sorriso em seu rostoUm diabo terrívelse esgueira sobre os meus pésE em seus olhoseu vejo a figura de um homem tristeDeitado na camadefinhando-se com a fomeenquanto as suas angustiascorroem os seus sonhose o mata aos poucosAquela criatura decadentedefinhando-se em seu próprio abismoera tudo que eu fuie tudo que eu souAqueles eram os meus sentimentosminhas dorese minhas angustiasOs ratos se alimentavamdos meus restos podrese as baratas faziam ninhos nas minhas entranhasTal como cristo que sorriupela ultima vezquando foi abandonado pelo seu próprio paiOu como as estrelas órfãsa vagar na escuridãoSomente morto eu poderia sorrirpara os pássaros na minha janela…- Gerson De Rodrigues“