„Alegoria do SuicídioEu sei que hoje será o meu último dia na terra, eu decidi isso enquanto caminhava solitário pelas penumbras da noite. Procurei por cada canto daquela vazia avenida, e não encontrei nenhum motivo para existir.Todos os motivos que eu supostamente haveria de encontrar eram mentiras contadas por mim mesmo afim de prolongar o castigo de viver.Voltei para casa, peguei aquela velha corda que ficava guardada na segunda gaveta, amarrei-a sobre o teto, e me dependurei sobre a miséria.Ali estava eu, debatendo-me enquanto sentia o nó daquela velha corda quebrando cada centímetro do meu pescoço, enquanto a minha alma escapava do meu corpo.Eu me debatia, e meus olhos lacrimejavam-se, talvez, fossem lágrimas de arrependimento. Mas agora já era tarde demais…Eu morri e minha alma caiu de joelhos diante da figura de um homem, aquele era eu, uma versão mais madura de mim que já havia passado por todos esses momentos de dor e agonia.Acreditei por alguns segundos, estar diante da morte, pois o meu corpo ainda estava ali dependurado sobre a sala de estar.Caminhei lado a lado com aquele homem misterioso, que com os dedos apontou para as estrelas e com uma voz suave ele me disse:- Se algum dia o desejo da morte gritar em seu rosto, não aperte o gatilho! Pense nas estrelas, elas morrem não porque elas querem, e sim porque chegou a hora.Viver sozinho é como mergulhar no infinito e voar até o céus tocando as nuvens e as estrelasEstar sozinho é como voltar no tempo e sentir-se novamente uma criança ou um deus a vagar pelo cosmosAndar sozinho é como viajar até o paraíso acompanhado por anjos ou dançar no inferno acompanhado por diabosViver sozinho… é também sentir a navalha cortar seus pulsos enquanto seu sangue jorra em alto mar é sufocar-se nas próprias lágrimas até que o seu pulmão se encha de sangue e a luz dos seus olhos se apagueSobreviver sozinho é renascer do castigo de existir é limpar o sangue com as próprias mãos é caminhar mesmo quando já não existe mais chão é matar quando não te oferecem perdão é amar a si mesmo por compaixãoÉ viver sendo o único deus na escuridão…“