„Poema – CulpaRastejando como um vermepodre neste mundo hostilfedendo a sangue e enxofreFui batizado com a salivado diabo e nomeadopelos deusesA criatura mais insignificantedeste mundoReúnam-se em coletivosmarchem em direção aminha casaCom a suas tochase símbolos da pazMatem-me com violênciaenquanto o meu corpo friodebate-se em êxtasepela dor infligida na minha almaArrastem o meu corpopelas ruas e justifiquemtal ato com louvores e bênçãosCaminhareicom os pés descalçose mãos amarradasEnquanto chicoteiamas minhas costas- Não tenham penadeste homem imundo!A dor que eu fareisenti-los se me deixarem viveré muito maior do queestas feridasEu sou a destruição deste mundoa praga que tanto tememem suas histórias bíblicasA depressão já instauradana parte mais minuciosado seu intimoAs lágrimas que choramsem saber porqueO sentimento de vazio!a solidão que os assombratodas as noites!Sou o culpado por cada mortecada ente querido enterradoneste solo malditoque agora alimentam os vermes- Parem com essas orações- Esses olhares de pena!Continuem com as martirizaçõesatirem pedras em meu corpo nudiante de suas catedraisAcabar com a minha vidasignifica viver mais um dia!- Não querem voltar parasuas casas?- Abraçar os seus filhos?- Rezar para o seu Deus?Se almejam tanto a felicidadeum sacrifício de sangueserá necessárioDiante de todos estes olharesque me encarameu me declaro culpadopor suas doresCrucifiquem-mee atirem fogo em meu corpoPara que nenhum milagrecaia sobre as minhas cinzas…- Gerson De Rodrigues“
„Poema – 2 Coríntios 11:14Viajei entre galáxias vivase cheias de vidaque de nada aprendiMas conheci buracos negroscheios de mortee sai de lá um sábioEu sou o filho do nadae o herdeiro de todas as coisasTenho mais anos de vidado que estrelas no universotenho muitos nomese alguns confesso que já foram reaisConheci certa vezuma criatura estranha que veio até mimem busca de respostasCujas perguntasestavam ali nela explicitasDurante todos esses anos de vidaviajando por aieu finalmente aprendiQue as respostapara todas as minhas perguntasestavam na noite em que eu me matei;Eu havia acordadoem uma destas noites frias e solitáriassentindo o meu sangue fervercomo um veneno que me matava aos poucosCom olheiras nos olhose o cansaço do mundo nas minhas costasSentado nas beiradas sujasde uma camarepleta de angustias e sonhos perdidosSentia-me excluídode todas as coisasQuantas vezesvocê já não choroucom as cordas em seu pescoço?Sentindo as suas mãos tremulasenquanto decidiase colocava ou não um fim em sua vidaSinto-me assim todos os dias…Forçado a buscarrefugio na solidãoAo caminhar por ruas lotadassinto-me a mais terrível das criaturasA ansiedade me atormentae eu não consigo olhar em ninguém nos olhosTodas as vezesque eu tentei amar alguémlágrimas escorreram pelos seus rostosO que é mais cruel?O Suicídio prematurode uma alma infelizOu os martíriosde um monstro solitáriocuja as dores o matam aos poucosSentado nas janelasdo décimo terceiro andardo meu prédioEu me lancei em meio ao abismoUm anjo de luzme segurou em seus braçosE em minha menteele profetizou- Antes de queimar em suas chamasSubiras aos céus;ergueras o seu trono acima das estrelas dos DeusesE se sentará em meio aos arcanjoso ponto mais elevado do montese elevará mais alto do que as nuvens;Serás a estrela da manhão filho das alvoradasE a luz no final do Abismo!Para se livrar das trevasque vive em seu peitoDeves matar o homem que és hoje!- Gerson De Rodrigues“
„O Conhecimento me trouxe um fardo, como uma assombração que me persegue por todos os cômodos da casa. Uma criatura negra que suga toda a felicidade que existe em mim afim de me transformar em algo tão sombrio quanto esta própria assombração (…)Eu me lembro, sim eu me lembro! como se fosse ontem, em meus belos dias de ignorância víu, no auge de minha juventude. Aquele sorriso ao me entreter com a futilidade da vida, aqueles amigos falsos com sorrisos malditos prontos para me apunhalar pelas costas, o calor mentiroso embora aconchegante da religião. Aqueles eram dias felizes, a ignorância me trazia a paz e a felicidade que um homem precisa para viver neste planeta como mais uma formiga trabalhadora.Mas ela veio até mim, a assombração do conhecimento. Aquela criatura negra e gélida apareceu pela primeira vez em forma de cálculos matemáticos em um livro do Stephen Hawking. E foi neste particular momento que meus olhos abriram-se pela primeira vez, como uma criança que acabou de nascer, e ao olhar para o céu eu não via apenas pontos luminosos eu via mundos inteiros, constelações e galáxias.Algo tomou conta de mim… era aquela assombração e ela pedia por mais, ela implorava por mais e para que sua sede fosse saciada, caminhei lado a lado com aquela criatura negra até uma biblioteca.E ao sentar em uma das cadeiras me vi embriagado em pensamentos e reflexões Filosóficas, Nietzsche, Camus, Carl Sagan e o sádico Aleister Crowley. Todos eles agora viviam em mim, o conhecimento agora havia aberto meus olhos para um mundo que sempre esteve ali, mas eu nunca pude vê-lo.Agora eu estou aqui, sozinho em uma casa velha com as luzes apagadas e uma vela que ilumina um velho caderno, do qual escrevo textos melancólicos sobre a vida. Para que algum dia outros conheçam está assombração.Ela… Que é a minha melhor amiga.“
„Poema – SodomaNo esgoto dos ratosOs suicidas trepam com as baratasPara esquecer o seu medo da morteEnquanto aqueles que já se mataramParticipam de orgias com a mãe de cristoEm busca de salvação Da condenação divina;Há uma jovem neste exato momentoQue teve o seu coração partido Ela jura que a arma na gaveta do seu paiPode solucionar todos os seus problemasEnquanto o seu vizinho ao ladoChora todas as manhãs Com uma única chance De faze-la sorrir O quão irônica é a vida?Enquanto padres estupram criançasMães rezam para que cristo as protejamDo homem que as violentam todos os dias Como uma sinfonia composta porBeethoven e apreciada pelo DiaboA vida e a morte caminham de mãos dadasEnquanto nós meros mortais Clamamos por um abraço daqueles Que nos apunhalaram pelas costasUm homem de sessenta anos Teve o seu coração partido Mais vezes do que todos os seus filhosHoje ele chora sozinho em sua sala de estarSe perguntando por que não teve coragemDe se matar aos dezesseis anos Talvez porque a dor em seu coraçãoNão fosse tão forteQuanto a sua vontade de viver mais um dia?Vivemos vidas miseráveis Enquanto nos perdemos em ambiçõesDe uma vida feliz e um amor sinceroExiste um boato no infernoQue todas as almas felizes são condenadasAo abismo da melancolia Enquanto aqueles que sofreram em vidaSão abraçados pelo acalanto amorDe um anjo apaixonadoMas todos nós sabemos que Os contos bíblicos são mentirasContadas por homens que queimavamMulheres inocentes Em fogueiras de pura covardia e terrorBlasfêmias ofendem mais Do que crianças morrendo de fomeOu adolescentes cortando seus pulsosEnquanto seus pais dizem que o sangueQue escorre pelas suas veias É pura frescura Uma mulher inocente Foi estuprada por um monstro imundoEla se enforca se sentindo culpadaE o crápula é aplaudido pelos vermesQue chamam de amigos Vivemos em uma sociedade doenteE o suicídio para alguns é o remédioMenos doloroso…- Gerson De Rodrigues“
„Poema – Os Pássaros na minha janelaEm meu peito vive uma angustiaque transborda pelos meus olhosRespiro ofegantesentindo um aperto em meu coraçãoO desespero toma conta do meu corpocom as mãos tremendoentro no banheiro aos prantosSem pensar nas consequênciaseu me enforco no chuveiroO meu corpo se debate em agoniaas minhas mãos tremulas tentamse agarrar nos azulejosO chuveiro estourasou arremessado ao chão de joelhose as minhas lágrimas fundem-se com a águaChorando sem saber o que fazereu deito na cama abraçado a solidãoPassaram-se três diase eu ainda não me levanteiVejo o meu corpodefinhar-se com a fomeos meus ossos secarem com a tristezaAs baratas no meu quartosão as únicas testemunhasdo meu fim decadenteLá fora há um pássaroque canta em harmoniaeu poderia morrer agorae seus sussurros me fariam sorrir Com o corpo fracosentindo todo o peso do mundonas minhas costasEm passos leveseu tento caminhar até a janelaAo abri-lame deparo com um mundosombrio e repleto de dorSou arremessado de joelhosnas chamas escaldantesdo meu próprio infernoCaminhando descalçoem meio as chamasEu me vejo enforcadogritando o meu próprio nomeCristo se arrastaao meu lado de joelhosenquanto a minha alma chicoteiaas suas costassó para vê-lo sangrarAo fundoeu vejo a mortedilacerando almas confusascom um sorriso em seu rostoUm diabo terrívelse esgueira sobre os meus pésE em seus olhoseu vejo a figura de um homem tristeDeitado na camadefinhando-se com a fomeenquanto as suas angustiascorroem os seus sonhose o mata aos poucosAquela criatura decadentedefinhando-se em seu próprio abismoera tudo que eu fuie tudo que eu souAqueles eram os meus sentimentosminhas dorese minhas angustiasOs ratos se alimentavamdos meus restos podrese as baratas faziam ninhos nas minhas entranhasTal como cristo que sorriupela ultima vezquando foi abandonado pelo seu próprio paiOu como as estrelas órfãsa vagar na escuridãoSomente morto eu poderia sorrirpara os pássaros na minha janela…- Gerson De Rodrigues“