„Mas que é? – Que há de ser? Quem é que não sabe tudo?… Aquela intimidade de vizinhos tinha de acabar nisto, que é verdadeiramente uma bênção do céu, porque ela é um anjo, é um anjíssimo… Perdoe a cincada, Bentinho, foi um modo de acentuar a perfeição daquela moça. Cuidei o contrário, outrora; confundi os modos de criança com expressões de caráter, e não vi que essa menina travessa e já de olhos pensativos era a flor caprichosa de um fruto sadio e doce… Por que é que não me contou também o que outros sabem, e cá em casa está mais que adivinhado e aprovado? – Mamãe aprova deveras? – Pois então? Temos falado sobre isso, e ela fez-me o favor de pedir a minha opinião. Pergunte-lhe o que é que eu lhe disse em termos claros e positivos; pergunte-lhe. Disse-lhe que não podia desejar melhor nora para si, boa, discreta, prendada, amiga da gente… e uma dona de casa, que não lhe digo nada. Depois da morte da mãe, tomou conta de tudo. Pádua, agora que se aposentou, não faz mais que receber o ordenado e entregá-lo à filha. A filha é que distribui o dinheiro, paga as contas, faz o rol das despesas, cuida de tudo, mantimento, roupa, luz; você já a viu o ano passado. E quanto à formosura você sabe melhor que ninguém… – Mas, deveras, mamãe consultou o senhor sobre o nosso casamento? – Positivamente, não; fez-me o favor de perguntar se Capitu não daria uma boa esposa; eu é que, na resposta, falei em nora. D. Glória não negou e até deu um ar de riso. – Mamãe sempre que me escrevia, falava de Capitu. – Você sabe que elas se dão muito, e por isso é que sua prima anda cada vez mais amuada. Talvez agora case mais depressa. – Prima Justina?“
„O Filósofo & O Prisioneiro – Uma Alegoria para sabedoria da vidaCondenado a pena de morte o Filósofo sentava-se solitário em sua cela, enquanto observava o céu estrelado pela pequena janela que ali havia.Faltando apenas algumas horas para sua execução, um outro prisioneiro é arremessado em sua cela– Faltam-te apenas duas horas! E a morte irá beijá-lo! Gritou o guarda enquanto os enjaulava sem piedadeApós levantar-se e limpar suas roupas sujas. O prisioneiro encara aquele velho homem de barbas longas que encontrava-se ali parado, observando atentamente o céu noturno– O Guarda disse que você só tem duas horas de vida… Como se sente?Questionou o prisioneiro de forma tímida e preocupada, tentando puxar assunto. Enquanto isso o filósofo seguia em silencio observando o céu estrelado.O Prisioneiro por sua vez, caminhava de um lado para o outro incansavelmente preocupado– Para mim, imagino que faltam três ou quatro horas… Droga! Eu mal consegui realizar os meus sonhos… O que você pretende fazer nas suas duas últimas horas?Persistia o prisioneiro em uma tentativa falha de diálogo, enquanto caminhava de um lado para o outro, preocupado e com o medo da morte começa a remover sua camiseta e amarra-la na parte mais alta da cela– Quer saber? Pode ficar ai, fingindo que está tudo bem. Eu vou me matar, eu prefiro isso do que ser condenado a cadeira elétrica!O Filósofo, ao escutar tais palavras sórdidas volta sua atenção a aquela pobre alma.– Antes de prosseguir com esse ato, poderia por favor vir aqui ver algo?Disse o filósofo em tonalidade calma e serenaO Prisioneiro indaga – Ver o que? Não há nada que possa nos salvar agora– Eu insisto, tenho algo a mostrar-te…O Prisioneiro então caminha até a janela– Está vendo aquela estrela? A Mais brilhante dentre elas Disse o Filósofo apontando com os dedos para o céu estrelado– Sim, estou sim, aquela com uma tonalidade meio azulada não é? – Ela mesmo…O Filósofo encosta-se na parede, e com a voz calma ele diz– Observe a atentamente, imagine que naquela estrela existe também um planetaUm planeta tal como o nosso, com heróis e vilões, deuses e homens, sábios e tolos, o quão fascinante não seria? O Quão fascinante não seria estar observando-os agora neste momento oportuno, a algumas horas antes da nossa morte…O Prisioneiro encantado com tais palavras, observava atentamente aquela estrela, e toda aquela euforia e preocupação que havia em sua mente aos poucos se esvaiO Filósofo então, coloca as mãos nos ombros daquela pobre alma e diz– Essa estrela, já pode ter se apagado a muito tempo embora ainda estejamos contemplando a sua luz (…) Toda a vida que um dia viveu sobre o calor daquela estrela, hoje se encontra no mais sublime silencio da doce morte que os encontraTal como a nossa estrela, que é um ponto luminoso no céu noturno de alguémQuando morrermos, a luz da nossa estrela servirá como um suspiro de esperança para homens que como nós aguardam o sublime beijo da dona morte.O Prisioneiro com os olhos cheios de lágrimas e o coração calmo, sorri, e mesmo diante da inevitável morte encontrava-se tranquilo– Então não temes a morte? Perguntou o PrisioneiroO Filósofo caminha até a janela, e olhando para o céu noturno com a contemplação filosófica de que a sua morte de nada importava para o universoSorrindo ele responde– A realização de que vou virar pó, paradoxalmente me tranquiliza…“
„Homem e o Conhecimento – Uma Alegoria dialética.Certa vez, um filósofo em busca de conhecimento e sabedoria foi ao encontro de um velho Monge, conhecido por seus grandes feitos na literatura e no conhecimento mundial.Esse monge, conhecido como ‘’ Thoth o Sábio’’ Vivia no alto de um monte em uma biblioteca pessoal de livros escritos por ele mesmo.Ao subir o grande monte com muito esforço e dedicação e adentrar os portões de ouro da sagrada biblioteca, o Filósofo se surpreende com aquele velho monge. Que se encontrava sentado em meio aos livros em posição de Lótus expressando tamanha sabedoria.Com cautela, o Filósofo calmamente indaga uma forte questão ao sábio monge. Questão da qual, nunca a ele foi dirigida antes― Como podes um homem tão sábio, possuir tamanha certeza de sua vasta sabedoria? Poderias tu, me guiar a sabedoria do mundo?O Monge, abre calmamente seus olhos que antes estavam fechados e meditando calmamente. Ainda sentado na posição de Lótus, respondeu friamente― Quem eres essa tola alma que ousas dirigir-me a palavra?O Filósofo, ao ser chamado de tolo sorriu de maneira irônica com o canto de sua boca.― Sou apenas um jovem poeta, um velho filósofo, muitas histórias eu escutei sobre ti. Homens que o seguem como um deus, mulheres que o idolatram como um símbolo, crianças que leem seus livros e tornam-se jovens revolucionários. Pensei, se tamanha mente existe, o que seria de mim então? Um tolo. Tu és de fato, o mais sábio dos homens por isso escalei o mais alto dos montes, com o único objetivo de conhecer o mais sábio dos homens.O Sábio monge, orgulhoso de sua vasta sabedoria sendo elogiada por um jovem Filósofo. Se levanta, e caminha a um de seus muitos livros naquela vasta biblioteca. Pega um deles, intitulado ‘’ A Sabedoria do mundo’’ e então, abre em uma página com uma precisa marcação começando então a leitura de sua citação― E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios. Tudo isto provei-o pela sabedoria; eu disse: Sabedoria adquirirei; mas ela ainda estava longe de mim. E vinham de todos os povos a ouvir a sabedoria de Salomão, e de todos os reis da terra que tinham ouvido da sua sabedoria. Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. Com ele está a sabedoria e a força; conselho e entendimentoApós escutar tal citação, o Filósofo reconhece que tal pensamento, não poderia ter advindo de tal homem, ele então indagou― Essa citação do seu livro, não eres da Bíblia sagrada? Tenho certeza que eu poderia encontra-la em Jó 12:13.O Monge, cai em gargalhadas. Colocando seu livro sobre uma velha mesa, perguntou ao Filósofo.― E não são os homens diabos copiadores? Todo conhecimento adquirido pelo homem, adveio de outro homem mais sábio.O Filósofo furioso, começa a caminhar por toda a biblioteca pegando todos os livros e abrindo-os de um a um.― Friedrich Nietzsche, Zaratustra, William Godwin, Schopenhauer, mas isso é um absurdo! Como pode se dizer o grande sábio? Se nenhum destes livros foi escrito por você, são apenas ideias de outros homens! Você é uma grande fraude!!Gritava o filósofo enquanto verificava e arremessava cada livro nas estantes.O Monge, ainda mantendo sua plena calma, indaga ao Filósofo uma simples questão.― Poderia me dizer, o que achas sobre Deus?O Filósofo, escutando tal pergunta simples e tola responde rapidamente sem pestanejar― Uma fantasia criada por homens, um mero mito, uma ideia, deus a muito tempo morreu e somos hoje homens da ciência!O Monge caindo em gargalhadas responde― Ainda não percebeu não é? Tudo o que disse, veio de outras mentes eu poderia categorizar sua resposta com o nome e o livro de cada pensador.O Filósofo, escutando tal resposta começa a refletir, refletindo ele responde calmamente― Não… essa resposta veio da minha mente, eu apenas a aprendi ao longo dos anos. No entanto, não me intitulo o grande sábio.― Então poderia me dar uma resposta a respeito da existência de Deus, sem mencionar ou pensar sobre alguma literatura que leu ou aprendeu durante seus longos anos de vida? Perguntou o Monge.O Filósofo caminha de um lado para o outro, seus neurônios queimando como um vulcão― Mas é impossível! Desde os pré-socráticos a mente do homem… vem aprendendo e evoluindo como um coletivo, esse desafio que me propôs é humanamente impossível.Respondeu o Filósofo com uma tonalidade séria em sua voz.O Monge calmamente pega um caderno velho, com anotações por todas suas folhas e entrega nas mãos do Filósofo.― Esta vendo cada anotação? Cada ideia? Todas as ideias que eu tive, toda a reflexão, em algum momento ela nasceu de algum outro homem. Até mesmo Nietzsche se inspirou em Stirner, todos os homens compartilham de uma filosofia coletiva, de uma ciência mental. Não se pode ser sábio, se negar o conhecimento preestabelecido pela humanidade.O Filósofo confuso, vendo tais anotações enquanto sua mente conectava cada referência literária, coloca o caderno sobre a mesa e pergunta― Como um monge, intitulado o sábio, nada mais é do que qualquer outro Filósofo, escritor ou homem que pisou nesse planeta? Me diga, o que diferencia você dos outros homens?O Monge, caminha até o Filósofo enquanto desvia das pilhas de livros, coloca a mão em seu ombro e pede que o siga. Ambos sobem uma escada, que leva ao segundo andar daquela biblioteca. Aonde um grande telescópio apontando para o céu os aguardava― Por favor, veja com seus próprios olhosO Filósofo, se aproxima do telescópio e ao observar a imensidão do cosmos é chocado por uma realidade assustadora. Diante de seus olhos, foram apresentadas incontáveis galáxias, planetas e mundos distantes.O Filósofo é claro, já havia lido em livros de astronomia sobre a imensidão do cosmos, mas nunca de fato o viu com seus próprios olhos.O Filósofo então, ao tornar-se o sábio monge realizou em sua primitiva mente de macaco, que mesmo lendo todos os livros já escritos. O conhecimento realizado pelo homem, de nada importa para o universo.Pois tudo que conhecemos, ou iremos conhecer não passa de um leve suspiro de uma criança que acabou de nascer mas morreu logo depois do parto.A vida, a existência tudo o que conquistamos, ou iremos conquistar. É apenas um grito ecoante de desespero para nos convencer que somos importantes, mas no fundo todos nós sabemos que somos inúteis.O Velho filósofo, tornou-se o sábio monge.Sábio, por reconhecer o seu lugar no nada, como um nada. Pois mesmo com todo o conhecimento do mundo, o nosso mundo é apenas um pontinho luminoso no céu…“
„Imaginem que um Filósofo ao visitar uma velha Biblioteca se depara com um velho Sábio- Estais perdido? Perguntou o Sábio- Se estou perdido, como poderias tu orientar-me a razão? Disse o filósofo em tom questionadorO Sábio abaixa sua cabeça, caminha de um lado para o outro e indaga – Estais perdido!?Filósofo: E não estamos todos?O Completo e absoluto silencio gritava mais alto do que suas bocas caladas, embora suas mentes gritassem mais alto do que o mais feroz diabo.Sábio: Não posso estar perdido, se eu sei exatamente aonde o verdadeiro eu estas, e deverias estar.Filósofo: E Como poderias tu saber aonde deverias estar e aonde estas?Sábio: Mas isso é muito simples, se estou em algum lugar, sigo a minha vontade. Está de acordo?Filósofo: E Como saberias que segues a tua própria vontade? Se não foi influenciado pelo homem que vive em ti, o homem que crê em ti e nos deuses! Como poderias tu, saber aonde deverias ir?O Sábio caminha a uma das muitas prateleiras e pega um livro, senta-se na frente do filósofo e diz de maneira serenaSábio: Se leres este livro, e após a leitura tornar-se outro homem, como diferenciarias quem tu és, para quem tornou-se?Filósofo: O Homem que leu este livro, para ti és um homem diferente antes deste mesmo livro? Digo, se hoje acredito no poder dos deuses, e amanhã perco completamente a fé por ler um livro ou dois, teria eu tornado me um homem sem fé, ou um homem diferente do que sempre fui?Sábio: Tornarias outro homemFilósofo: Mas isso é uma loucura, se torna-se outro homem a cada nova experiência, então tu, quem és afinal?Sábio: Isso é muito simples…O Sábio se levanta novamente e pega uma bíblia sagrada na escrivaninha a direitaSábio: Se ao ler estas fábulas, e acreditares com toda as forças que és cristo, isso torna-te cristo?Filósofo: Esse ato tornaria me um estudioso, um homem em busca de respostasSábio: Mas se as respostas levarem este homem a mais perguntas como poderias responde-las?Filósofo: Não há respostas afinal.Sábio: Quando tinhas dez anos de idade, pensavas o que?Filósofo: Eu era uma criança comum, católico, vivia na cidade pequena, mas o que a minha infância tem a ver com tudo isso?Sábio: Aquela criança ainda vive?Filósofo: Eu a matei, ela tornou-se o homem que souSábio: E ao matar o passado, tornou-se quem tu és!Filósofo: Mas esse argumento não sustenta a sua teoria, que ao lermos novos livros tornamo-nos outro homemSábio: Ao ler as palavras de cristo, tens dois homens prontos a nascer. Se ao leres a bíblia, e acreditar com toda a sua fé que és cristo, e que cristo vives em ti, o que tornarias?Filósofo: Um toloSábio: E o que este tolo faria após tornar-se um tolo?Filósofo: Viverias como um toloSábio: Ao leres as palavras de cristo e duvidares de sua existência, o que tornarias?Filósofo: Um sábio…Sábio: Então tornarias tu, outro homemO Filósofo pensativo caminha até uma seção na velha biblioteca, e pega uma série de livros matemáticos, senta-se em uma velha mesa acompanhada de uma pequena cadeira. Abre um dos velhos livros, aponta seu dedo sobre uma teoria matemática cientificaFilósofo: O Que compreendes ao ler esta teoria?Sábio: A Gravidade em sua mais bela e poética sinfonia matemáticaFilósofo: E Quem a escreveu? Poderias me dizer?Sábio: Isaac NewtonFilósofo: Consideravas Newton um sábio?Sábio: Mas é claro, um homem de muitas virtudesFilósofo: Mas este acreditava nos deusesSábio: E o que queres dizer com estas alegações?O Filósofo se levanta novamente e vai a uma pilha de livros ao lado, pegando então Assim falou Zaratustra de Friedrich NietzscheFilósofo: Conheces Nietzsche?Sábio: Mas é claro, estais a insultar-me?Filósofo: Se ao leres Newton e Nietzsche, o que tornarias?Sábio: Um novo homem…Filósofo: Este novo homem, serias quem? Nietzsche? Ou Newton? Como este homem diferenciaria os deuses da matemática? Friedrich de Newton?O Que eu quero dizer, como poderias tu, tornar-se outro homem ao leres dois autores distintos, se não o mesmo homem que agregou a si mesmo novas categorias do conhecimento.Sábio: Então alegas descaradamente, que sou o mesmo homem todos os dias da minha vida?Filósofo: E Como não poderias ser? Se ao leres mil livros, mudas-te de opinião mil vezes, és um metamorfo. Se ao escreveres mil livros, es um deus sobre os homens. Mas, se ao leres mil livros e aprenderes com estes próprios és o mesmo homem, com um intelecto refinado ao homem que eras anteriormente.Sábio: Queres dizer que o conhecimento é como um diabo possessor?Filósofo: Um diabo possessor?Sábio: Um diabo que tomas o corpo de um homem, mas não toma sua verdadeira essência.Filósofo: Estou de acordo, então voltamos a mesma questão ao nos conhecermos, como sabes que estais a seguir a sua própria vontade e não a de outros homens ou deusesSábio: Deixe-me responder essa questão, com uma alegoria que irá também sustentar meu outro ponto de vistaImagines que és um crente, que acreditas no poder do divino. Vives então em templos sagrados, seu mundo é o louvor, então descobres por um telescópio apontado aos céus que lá não há deuses, e sim homenzinhos verdes em outros mundos, descobririas então que neste novo mundo há também novos deuses como saberias tu que o deus que pregas e rezas és o verdadeiro?Filósofo: Não saberias, questionaria também os outros deusesSábio: E Se ao descobrires que além destes homenzinhos verdes, também existem tantos outros, e que o cosmos é repleto de deuses e vida. O Que tornarias a sua crença em um deus de carne?Filósofo: Se tornaria insensata, ausente de razão, mas ainda questionadora pela vontade de questionar e aprender sobre esses novos deuses.Sábio: Então responda-me, ao descobrir novos mundos tornou-se um homem diferente daquele pobre religioso de pés sujos em templos falsos?Filósofo: Deixaria de ser um crente, e tornaria me um questionador. Mas ainda seria o mesmo homemSábio: Se és o mesmo homem, por que não crê nos mesmos deuses? Tornou-se um novo homem ao conhecer outros mundos, pois o homem que fois um dia, suicidou-se diante das cordas sinceras da realidadeFilósofo: Se o que diz é verdade, e somos de fato, diabos possessores, possuídos pelo conhecimento que mata o homem mas não mata sua essência, como sabes que não estás perdido? Como diferencias a decisão do homem com a decisão do diabo?Se a cada nova experiência somos possuídos por um diabo diferente, se a cada livro torno-me um novo homem, se a cada mundo matamos um novo deus, quem eres tu afinal?Sábio: Mas isso é muito simples, imagine comigo a seguinte alegoriaSomos todos homens vagueando em um vale sem fim, pense que cada livro desta biblioteca és um diabo, ao seres possuído pelo diabo, torna-se o diabo, embora sua essência humana ainda prevaleçaFilósofo: Então acreditas que podes matar a si mesmo, e tornar-se o homem que eras, mas renovado em sabedoria?Sábio: Novamente estamos de acordo, poderias por favor dizer-me o que fazes em uma velha biblioteca como essa?Filósofo: Vim em busca de conhecimento, e autoconhecimento, mas acabei perdendo-me em tamanha sabedoria e tormentoSábio: E ao encontrar-me continua com este tormento?Filósofo: NãoSábio: E Por que não?Filósofo: Porque sei quem tu és, e vós não o conheceis, mas eu o conheço, e se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós. Mas eu o conheço, e guardo a sua palavra.Sábio: E quem sou eu?Filósofo: Tu és o meu Deus, e eu te darei graças; tu és o meu Deus, e eu te exaltarei.Sábio: Se eu sou o seu Deus, o único e verdadeiro Deus, sou tu enquanto falas sozinho para as paredes, divagando sobre quem tu és e o que tornou-se!Tornas-te Deus, ao questionar a si, mas continuaste o homem que és, e que fois ao lembrar-se de si, e o que és.“
„Poema – Memórias póstumasQuando eu disserque me cansei de todas as coisasnão tentem me salvarDeixem-me cortar os meus punhose sangrar até a luz do meio diaQuando perceberemque já estou mortoTransformem este diaem um feriado santoBatizem os seus filhosem meu sangueExibam o meu corpoem um altar de glória e poderProfiram mentiras em meu nomelembrem-se de memórias das quaiseu nunca viviE tampoucogostaria de tê-las vividoColoquem floressobre o meu tumuloGritem por todos os cantoso quanto sentem a minha faltaDigam‘’Amo-te mais do que todasas coisas’’Enquanto olham as minhas velhasfotografias de momentos dos quaispoderiam ter me dito tais palavras docesSim! Ascendam velasem meu nomeDigam aos meus parentes e amigosque sentem a minha faltaMas por favoresqueçam das vezesdas quais eu estava ao seu ladoEsqueçam de uma vez por todastodos os passos frios que dei porestas ruas vazias e cheias de ódioNão lembrem-se das minhasunhas arranhando estas paredes sujasenquanto clamava por ajudaFechem os olhos e tampem os ouvidostal como fizeram das vezesque supliquei em lágrimasLembrem-se das poucasvezes em que eu fui capaz de sorrirAh (…)quando eu caminharem direção aos vales distantesNão culparei nenhum de vocêspor não compreenderem os meus demôniosApenas deixarei que lembrem-sedas vezes que os transformei em canções poéticaspara os seus ouvidos surdos!Não se preocupem com as lágrimasou com as dores do meu ato finalContinuem rezandopara os seus deuses de mentiraVivendo suas vidas vaziase cheias de fortunaContinuem!suplico que continuem!em suas guerras ideológicasEsqueçam aqueles que como eumorreram abraçando suas próprias pernasEsqueçam-me de uma vez por todasenquanto lembram-sedo homem que eu nunca fui…“