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grávida
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„Renunciei a ser amada por ti, repito, mas não renunciei a amar-te. Escrevi no meu Diário que serias sempre o meu amor direito, o lado em que os pássaros voam na paixão, o lado que molha as palavras na poesia e dá cheiro aos sons de um piano. O lado que alimenta o sonho como um ventre grávido onde crescem peixes, aves, flores… e sabe ver no sol um deus de abraços quentes.“
„Dançava como um títere, tendo os cordéis dentro dela, atados na alma. Depois tomou-me nos seus braços e, sem pedir, desapegou-me das roupas. De todas as roupas. Colocou-me a outra coroa e convidou-me para dançar com ela, os dois nus. O meu corpo não tinha cordéis na alma, apenas acanhamento; sentia-se vazio de música. Mas ela pegava-me nos braços, endemoninhava-me o corpo, arrastava-me no seu bailado revolto. E ria. Um sorriso que se media a palmos como se mede o diâmetro do mundo, redondo, grávido, imenso. E eu entrei dentro desse sorriso, onde coube nu e sem vergonha. E dancei com ela como dança um louco, como se não houvesse amanhã, como se o hoje fosse pouco. E quando os nossos corpos caíram na cama, despidos e cansados, dormimos como dormem as flores, caídas umas sobre as outras, a partilhar o calor, a dividir o luar. Só quando tudo dormia já, senti que havia música dentro de mim. Finalmente. Música…“
„E inclusive mulheres velhas! [risos] É deprimente essa vontade de se exibir. Até mulheres grávidas gostam de mostrar a barriga de nove meses… por que tenho de ver a barriga dela? São coisas íntimas. Eu gosto da privacidade. Uma vez vi aqui perto de casa um casal transando na rua. Passei perto e ainda tive de ouvir: “Nunca viu, tia?”. Respondi: “Assim na esquina é a primeira vez” [risos]. Você não acha que há uma vulgaridade excessiva em nosso tempo?“
„Eu acho que nenhuma mulher é mais linda do que uma grávida. Toda vez que eu vejo uma mulher grávida, eu fico olhando, quero agarrar a mulher, quero começar a dar beijo na barriga da mulher, porque a grávida tem uma beleza… Não sei o que acontece, mas é a coisa mais linda.“
„Era uma vez uma época, e ela não está muito longe, em que também aqui se podia fazer sucesso com um bocadinho de ironia, que compensava todas as lacunas em outros aspectos, favorecia alguém com honrarias e lhe dava a reputação de ser culto, de compreender a vida e o caracterizava ante os iniciados como membro de uma vasta franco-maçonaria espiritual. Ainda nos deparamos de vez em quando com um ou outro representante deste mundo desaparecido, que conserva este fino sorriso, significativo, ambiguamente revelador de tanta coisa, este tom de cortesão espiritual, com o qual ele fez fortuna em sua juventude e sobre o qual construiu todo o seu futuro, na esperança de ter vencido o mundo. Mas ah! foi uma decepção! Em vão procura seu olhar explorador por uma alma irmã, e caso a época de seu esplendor não estivesse ainda fresca na memória de um ou de outro, suas caretas permaneceriam um enigmático hieroglifo para uma época na qual ele vive como hóspede e estrangeiro. Pois nosso tempo exige mais, exige se não um pathos elevado, pelo menos altissonante, se não especulação, pelo menos resultados; quando não verdade, pelo menos convicção, quando não sinceridade, pelo menos protestos de sinceridade; e, na falta de sensibilidade, pelo menos discursos intermináveis a respeito desta. Por isso, nosso tempo cunha uma espécie bem diferente de rostos privilegiados. Não permite que a boca se feche obstinada, ou que o lábio superior trema com ar travesso, ele exige que a boca fique aberta; pois como poderíamos imaginar um verdadeiro e autêntico patriota, senão discursando, o rosto dogmático de um pensador profundo, senão com uma boca que fosse capaz de engolir o mundo todo; como nos poderíamos representar um virtuose da copiosa palavra vivente, senão com a boca escancarada? Ele não permite que paremos quietos e nos aprofundemos; andar devagar já desperta suspeita; e como nos poderíamos contentar com isso no instante movimentado em que vivemos, não época prenhe do destino, que, como todos reconhecem, está grávida do extraordinário? Nosso tempo odeia o isolamento, e como suportaria que um homem chegasse à ideia desesperada de andar sozinho através da vida, esse nosso tempo, que de mãos e braços dados (como membros viajantes das corporações de ofício e soldados rasos), vive para a ideia da comunidade?“
„Sim, é só isso’, refletiu Dária Aleksandrovna, ao recordar sua vida naqueles quinze anos de casamento, ‘gravidez, enjoo, pensamento embotado, indiferença a tudo e, principalmente, feitura. (…) O parto, o sofrimento, um sofrimento horrendo, aquele último minuto… (…)’E tudo isso para quê? No que vai dar, tudo isso? Vai dar em que eu, sem ter um só minuto de tranquilidade, ora grávida, ora amamentndo, sempre irritada, rabugenta, um peso para mim mesma e um tormento para os outros, e também repulsiva para o meu marido, vou consumindo a minha vida e criando filhos infelizes, mal-educados e indigentes.“