„- Axioma: uma doença não é produtiva. Em si mesma, não cria quaisquer produtos de consumo e, consequentemente, não gera dinheiro. Embora seja uma desculpa para muitas actividades, em termos económicos só permite que o dinheiro troque de mãos. Dos doentes para os saudáveis. Dos pacientes para os médicos, dos clientes para os curandeiros. Podemos chamar-lhe uma osmose financeira.[…]- Agora, supõe que és uma empresa chamada SábiaSaúde. Supõe que ganhas dinheiro com as drogas e as técnicas que curam pessoas doentes ou, melhor ainda, que tornam impossível que as pessoas cheguem a ficar doentes.[…]- Então, de que é que vais precisar mais tarde ou mais cedo?- De mais curas?- Depois disso?O que queres dizer com “depois disso”?- Depois de curares tudo o que existe para ser curado.[…]- Lembras-te da má situação financeira em que ficaram os dentistas depois de aquele novo colutório ter entrado no mercado? Aquele que substituía as bactérias nocivas da placa dentária por outras benéficas que preenchiam o mesmo nicho ecológico, nomeadamente a tua boca? Nunca mais ninguém precisou de chumbar um dente e muitos dentistas foram à falência.- E então?- Então, precisarias de mais doentes. Ou… o que ia dar no mesmo… de mais doenças. Novas e diferentes, certo?- É plausível – admitiu Jimmy depois de uma breve pausa. De facto era. – Mas não estão constantemente a ser descobertas novas doenças?- A ser descobertas, não – retorquiu Crex. – A ser criadas.“