Jogos
Todos emoji
Citações
Home
»
penumbra
Relacionado com: penumbra
„Ela começava a florescer numa encruzilhada de forças contrárias. Tinha muito pouco da mãe. Do pai tinha o corpo esquálido, a timidez irremissível, a pele lívida, os olhos de um azul merencório, e o cobre puro da cabeleira radiosa. Seu modo de ser era tão misterioso que parecia uma criatura invisível. Assustada com tão estranha condição, a mãe lhe pendurava uma campainha no pulso para não perder o seu rumo na penumbra da casa.“
„Foi seu último livro completo. Tinha sido um leitor de voracidade imperturbável, tanto nas tréguas das batalhas como nos repousos do amor, mas sem ordem nem método. Lia a toda hora, com a luz que houvesse, ora passeando debaixo das árvores, ora a cavalo sob os sóis equatoriais, ora na penumbra dos coches trepidantes sobre os calçamentos de pedra, ora balouçando na rede enquanto ditava uma carta. Um livreiro de Lima se surpreendera com a abundância e a variedade das obras que selecionou de um catálogo geral onde havia desde os filósofos gregos até um tratado de quiromancia. Na juventude lera os românticos por influência de um professor Simon Rodríguez, e continuou a devorá-los como se estivesse lendo a si mesmo com seu temperamento idealista e exaltado. Foram leituras passionais que o marcaram para o resto da vida. No fim havia lido tudo o que lhe caíra nas mãos, e não teve um autor predileto, mas muitos que o foram em diferentes épocas. As estantes das diversas casas onde viveu estiveram sempre abarrotadas, e os dormitórios e corredores acabavam convertidos em desfiladeiros de livros amontoados e montanhas de documentos errantes que proliferavam à sua passagem e o perseguiam sem misericórdia buscando a paz dos arquivos. Nunca chegou a ler tantos livros quantos possuía. Ao mudar de cidade entregava-os aos cuidados dos amigos de mais confiança, embora nunca voltasse a ter notícia deles, e a vida de guerra o obrigou a deixar um rastro de mais de quatrocentas léguas de livros e papéis, da Bolívia à Venezuela.“
„Aprendi desde pequeno a conciliar o sono conversando com minha mãe na penumbra do quarto sobre os acontecimentos do dia, o que fizera no colégio, o que tinha aprendido naquele dia. Não podia ouvir a sua voz ou sentir o seu tato, mas a sua luz e o seu calor inflamavam cada canto daquela casa e eu, com aquela fé dos que ainda podem contar os anos nos dedos das mãos, achava que, se fechasse os olhos e falasse com ela, ela poderia me escutar onde quer que estivesse. Às vezes meu pai escutava da sala de jantar e chorava baixinho.Zafón, Carlos Ruiz. A sombra do vento (Locais do Kindle 41-43). Companhia das Letras. Edição do Kindle.“
„Enquanto percorria túneis e túneis de livros na penumbra, não pude evitar que me invadisse uma sensação de tristeza e desânimo. Não podia evitar pensar que se eu, por puro acaso, tinha descoberto todo um universo num só livro desconhecido na infinidade daquela necrópole, dezenas de milhares de outros livros ficariam inexplorados, esquecidos para sempre. Senti-me rodeado por milhares de páginas abandonadas, de universos e almas sem dono, que se fundiam em um oceano de escuridão enquanto o mundo que palpitava do lado de fora daquelas paredes perdia a memória sem perceber, dia após dia, sentindo-se mais sábio quanto mais esquecia.A sombra do vento“
„É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta que não conhece vitória nem derrota.“
„De imediato – tal é sua impetuosidade -, o amor tomou forma humana – tal é seu orgulho. Pois, enquanto outros pensamentos se contentam em permanecer abstratos, nada o satisfaz caso não surja em carne e osso, mantilhas e saias, meias e gibão. E, como todos os amores de Orlando haviam sido mulheres, agora, devido à condenável demora da condição humana em se adaptar às convenções, conquanto ela própria fosse mulher, foi uma mulher que ela amou; e, se a consciência de ser do mesmo sexo teve algum efeito, foi o de estimular e aprofundar aqueles sentimentos que tivera quando homem, pois mil sugestões e mistérios, antes incompreensíveis, agora se aclaravam. A penumbra que aparta os sexos e permite a proliferação de incontáveis impurezas havia sido removida. E, se faz sentido o que o poeta diz sobre a verdade e a beleza, aquela afeição ganhou em beleza o que perdeu em falsidade.“
„Leitor ignaro, se não guardas as cartas da juventude, não conhecerás um dia a filosofia das folhas velhas, não gostarás o prazer de ver-te, ao longe, na penumbra, com um chapéu de três bicos, botas de sete léguas e longas barbas assírias, a bailar ao som de uma gaita anacreôntica. Guarda as tuas cartas da juventude!“
„Uma fria chuva de inverno…Quando a morte beijar a vida pela última vez Como uma fria chuva de inverno Ou o último suspiro de um homem Ao debater-se dependurado em uma corda O Universo derramará suas últimas lágrimas de solidão…A Morte deixará esse universo sem o triste despojo da carne Ou o lamentar dos cegos e a esperança dos tolosQuando a morte beijar a última estrela Na penumbra da noite apodrecerão também Os últimos deuses e as últimas cançõesBanhada de lágrimas a solidão irá cavalgar Em seu cavalo negro pelo vale do nada E até mesmo o universo irá clamar Em desespero com medo da morteMorreremos sem deixar porventura uma única alma errante…Quando a morte selar o contrato com o tempo E a vida dobrar os seus joelhosA Esperança que um dia brilhou Nos olhos de pequenos indivíduos Que admiravam o céu noturno Em um passado longínquo Desaparecerá para sempreMorreremos sem deixar um único suspiro, uma única sombra…A lembrança da vida irá se apagar Com a última estrela a brilhar na escuridãoE os diabos vão chorar abraçados aos deuses Enquanto o seu reino perece Na fria epiderme da morteMorreremos tão completamente Que o Niilismo irá se tornar a última verdade…A Única verdade a caminhar pelo vazio Ao lado da morte como a sua doce amanteAté que um dia a morte ao ler em seu diário Sobre a sua antiga companheira chamada vida Chorará lágrimas de sangue degolando-se com a sua própria foiceMorreremos tão completamente Que o próprio universo deixará de existir..E a completa ausência da matéria Tomara conta deste infinito vazioE o vazio finalmente poderá sorrir para a solidão beijando-a como uma fria chuva de inverno….“
„Alegoria do SuicídioEu sei que hoje será o meu último dia na terra, eu decidi isso enquanto caminhava solitário pelas penumbras da noite. Procurei por cada canto daquela vazia avenida, e não encontrei nenhum motivo para existir.Todos os motivos que eu supostamente haveria de encontrar eram mentiras contadas por mim mesmo afim de prolongar o castigo de viver.Voltei para casa, peguei aquela velha corda que ficava guardada na segunda gaveta, amarrei-a sobre o teto, e me dependurei sobre a miséria.Ali estava eu, debatendo-me enquanto sentia o nó daquela velha corda quebrando cada centímetro do meu pescoço, enquanto a minha alma escapava do meu corpo.Eu me debatia, e meus olhos lacrimejavam-se, talvez, fossem lágrimas de arrependimento. Mas agora já era tarde demais…Eu morri e minha alma caiu de joelhos diante da figura de um homem, aquele era eu, uma versão mais madura de mim que já havia passado por todos esses momentos de dor e agonia.Acreditei por alguns segundos, estar diante da morte, pois o meu corpo ainda estava ali dependurado sobre a sala de estar.Caminhei lado a lado com aquele homem misterioso, que com os dedos apontou para as estrelas e com uma voz suave ele me disse:- Se algum dia o desejo da morte gritar em seu rosto, não aperte o gatilho! Pense nas estrelas, elas morrem não porque elas querem, e sim porque chegou a hora.Viver sozinho é como mergulhar no infinito e voar até o céus tocando as nuvens e as estrelasEstar sozinho é como voltar no tempo e sentir-se novamente uma criança ou um deus a vagar pelo cosmosAndar sozinho é como viajar até o paraíso acompanhado por anjos ou dançar no inferno acompanhado por diabosViver sozinho… é também sentir a navalha cortar seus pulsos enquanto seu sangue jorra em alto mar é sufocar-se nas próprias lágrimas até que o seu pulmão se encha de sangue e a luz dos seus olhos se apagueSobreviver sozinho é renascer do castigo de existir é limpar o sangue com as próprias mãos é caminhar mesmo quando já não existe mais chão é matar quando não te oferecem perdão é amar a si mesmo por compaixãoÉ viver sendo o único deus na escuridão…“
„Metáforas & Paranoias – As vozes em minha menteDentro da mente de cada indivíduo existe um lugar escuro e sombrio, cuja penumbra da noite reina sobre seus pensamentos como uma alma aprisionada no mais terrível dos abismos. Esse lugar é temido por todos os homens, lá vivem seus pensamentos mais infames e desprezíveis, é de lá que nascem os suicidas e os assassinos em série.Muitos homens procuram esquecer e fingir que o lado sombrio não existe, então apegam-se nos deuses, nas drogas, no amor e nas mentiras.Enquanto isso muitos outros homens são assombrados pelos fantasmas que lá habitam, vozes que gritam em sua mente coisas terríveis que o levam a loucura.As vozes exploram o pior da essência de cada indivíduo, enquanto as almas do abismo mastigam as tripas dos deuses caídos e gritam com sangue em seus dentes coisas tão terríveis que nem mesmo o homem mais puro seria capaz de suportar.Para conviver com tais pensamentos, é necessário um pacto com o seu lado sombrio. Um pacto com a mais podre essência abismal que vive dentro da sua mente. Para isso, temos que encarar os fantasmas e os monstros não como inimigos, não como criaturas infernais, e sim como uma bela estrela cintilante no céu noturno. Que embora bela e cintilante, seu brilho são as lágrimas de diabos atormentados que a muito tempo chorou suas últimas gotas de sangue…“