„Foi assim que, de uma hora para outra, habituei-me a uma vida sem leitura.Pensando bem, isso era muito estranho, pois, desde criança, minha vida gravitavaem torno dos livros. No primário, eu lia os livros da biblioteca e gastavapraticamente toda a minha mesada em livros. Economizava até o dinheiro dolanche para comprá-los. No fundamental e no ensino médio, não havia ninguémque lesse mais do que eu. Eu era a filha do meio dentre cinco irmãos e meuspa1s estavam sempre ocupados com o trabalho. Ninguém da família seimportava comigo. Por isso, eu podia ler à vontade, do jeito que eu bementendesse. Eu sempre participava de concursos de ensaios literários. O que meinteressava era o prêmio em cupons de livros, e não foram poucas as vezes emque ganhei. Na faculdade, cursei letras, inglês, e sempre tirei boas notas. Amonografia de conclusão de curso foi sobre Katherine Mansfield, e fui aprovadacom nota máxima. Os professores me perguntaram se eu não queria continuarna faculdade e seguir carreira na pós-graduação. Mas, naquela época, eu queriaconhecer o mundo. Sinceramente, eu não fazia o tipo intelectual, e estava cientedisso. Eu simplesmente gostava de ler livros. E, mesmo que eu optasse porcontinuar os estudos, minha família não teria condições financeiras para arcarcom as despesas de uma pós-graduação. Não que fôssemos pobres, mas eu tinhaainda duas irmãs mais novas. Por isso, assim que me formei, tratei logo de sairde casa e conquistar minha independência. Literalmente, eu precisava sobrevivercom as próprias mãos“
„A história do comunismo, do movimento comunista, é no fundamental, embora num percurso acidentado, a história de uma luta social constante na defesa dos interesses e direitos dos explorados e oprimidos, tendo como objectivo construir uma sociedade nova e melhor, o que implica confiança no ser humano e exclui a crença em formas sobrenaturais, que decidam do seu destino. Os objectivos e a luta dos comunistas hoje são inseparáveis dos objectivos e da luta desde o Manifesto Comunista de 1848. A Igreja católica pouco tem a ver com os primeiros cristãos que eram perseguidos. Aquele aquem se atribui a fundação da Igreja, S. Pedro, foi crucificado e de cabeça para baixo. Quando, alguns dizem que Cristo foi o primeiro comunista, atribuem-lhe ideias e comportamentos com os quais pouco ou nada têm a ver as ideias e os comportamentos da Igreja Católica ao longo dos anos, pois ela se tornou um elemento integrante do feudalismo, e depois do capitalismo, a não ser em alguns dos seus sectores que retomam as melhores ideias e comportamentos atribuídos a Cristo. No movimento comunista e na concretização dos seus objectivos registaram-se, graves situações e fenómenos que se afastaram dos ideais sempre proclamados pelos comunistas. Mas, se se fala em comunismo hoje, eu só compreendo mantendo e defendendo esses ideais e não renegando as grandes realizações e o património de luta de gerações e gerações de comunistas. Os comunistas não têm uma concepção ideológica separada de uma intervenção prática. Ao contrário da Religião, não aceitamos o conformismo e a resignação. Não estamos a lutar por uma concepção; estamos, com uma concepção, a lutar pela solução de problemas concretos da humanidade e por uma transformação da sociedade que os resolva. Estamos cá na terra, com os pés assentes na terra.“