„O Dia em que eu morriHoje fui assombrado por todas as tristezas do mundo, a solidão que era a minha melhor amiga tentou me assassinar, e a melancolia que a muito tempo a aceitei como parte da minha essência, transformou-se em demência e levou-me a loucura.Gritei por ajuda mas ninguém naquele quarto vazio poderia escutar minhas preces, as janelas transformaram-se em grades de prisões e aos poucos fui consumido pela escuridão que me aprisionou em um asilo de sofrimento e demência…Demônios terríveis desciam pelas paredes e as vozes em minha mente lembravam-me que a solução para livrar-se da dor era a mortePor muitos anos eu acreditei que havia superado os monstros e os diabos, e que o meu pacto com a solidão e a melancolia haviam feito de mim um homem livre. Mas a liberdade havia se tornado mais uma ilusão, e o Niilismo que há muito tempo havia me libertado das correntes frias da depressão e dos vícios também havia me traído.Pois naquele momento de caos e desespero, eu não era um Niilista, tão pouco um professor ou um intelectual. Eu não era ninguém! Não existiam diferenças entre mim e os vermes, eu finalmente havia percebido que era hoje…Hoje era o dia em que eu morreria, todos temos que morrer um dia certo? Em algum momento os monstros vão sair debaixo da cama e cobrar o pacto que você fez com o diabo, e ele vai sorrir para você e quando o diabo sorri os homens choramDestranquei a gaveta, e peguei aquela velha pistola que jurei nunca mais ver. Coloquei-a contra a minha boca e atirei…Há momentos em que a solidão irá te trair e a tristeza tentará te assassinar então clamaremos por socorro e ninguém poderá escutar nossas preces pois a única solução será matar as dores que assombram o seu coração para que nos tornemos estrelas mortas que continuam a brilhar no vazio da escuridão.“
„Manifiesto de la LibertadNestes versos não há poesia Nem mesmo filosofia Apenas um grito de rebeldia, uma canção de Anarquia Não tapem seus ouvidos, e não calem minha boca; Porque mesmo calado eu grito, Mesmo morto eu proclamo…Que a música que eu ouço ao longe Sejam as trombetas do apocalipseO Exército marcha nas ruas Com as suas botas sujas de sangue; Torturam estudantes e matam manifestantes Enquanto são aplaudidos por um bando de ignorantesQue as palavras que eu falo Não sejam ouvidas como prece E nem repetidas com fervor, Apenas respeitadas como a canção de um homem que morreu por amorErguemos nossa bandeira negra E lutamos contra o Fascismo Mas a outra metade se calou e aplaudiu o NazismoOs líderes mundiais dividiram o povo Na esquerda colocaram os enforcados, e na direita os decapitados E nessa tensão o homem aplaude, julgando os mortos do outro ladoOs porcos fascistas continuam marchando O chão de sangue continuam manchando Enquanto o hino nacional continuam cantando…Com mentiras populistas alienaram a população Em uma guerra civil transformaram o povão; Em um espelho de sangue, aonde irmão mata irmão Diziam os fascistas ‘’ É uma batalha contra corrupção’’ Mataram um negro inocente o acusando de ladrão…Um general fascista junto de um capitão criaram campos de concentração ‘’ Precisamos combater o comunismo em nome da nação’’O Povo sem esperança e sem alegria Levantaram bandeiras de anarquiaPois enquanto existirem jovens rebeldes existirá anarquia A Juventude exalava rebeldia;Nas ruas marchamos e lutamos Muitos de nós morreram, mas morreram lutando…Suas lutas não foram em vão Finalmente capturamos o capitão- Enforquem-no! Em nome da nação!“
„Poema – DepressãoEstive ao seu lado em suasnoites de insôniaE quando você se sentiu sozinhoe clamou aos deusesquem atendeu suas preces fui euCaminhei ao seu ladodurante noites infernaisMas ao contrário da sua sombraeu não te abandonei na escuridãoRoubei a sua almae conquistei a sua féSou o seu novo Deusvocê queira ou nãoFiz ateus dobrarem os joelhose cristãos clamarem pelo diaboDancei na frente de judasquando ele se arrependeupelos seus pecadosTomei o sangue dos seus pulsosquando você o dilacerou pelaúltima vezEu sou o monstro quete impede de viverA voz presa em sua gargantaquerendo fugir desta prisãoA timidez rasgando suas víscerasquando olhos de julgamentote encaram em publicoEu sou a insegurançaque faz você odiar o seu corpoTransformo os seus sonhosem pesadelos terríveisque fariam de mimo seu melhor amigoEu sou a cordaesmagando o seu pescoçoenquanto você se debate em agoniaEu sou os olhares de penaquando colocarem em vocêcamisas de forçaO seu único companheiroquando os remédiosnão fizerem efeitoTe contarei piadas infamesque transformarão suas risadasem gritos de dorE quando tentarem falar de mimpara alguémFarei da sua insegurançaum ninho de incertezasaté que a morte seja sua única amigaVocê irá implorar para queeu te deixe em pazGritará pelas ruas para quetirem a sua vidacomo um ato de misericórdiaFarei com que todos aquelesque te amamse afastem e o deixem no limboE quando na mais negra escuridãovocê se encontrartirarei também as suas esperançasPelas asas podresde Ba‘alo rei das moscas e das pestilênciasDirei o meu nome em segredo…Eu sou aquelediante do espelho!- Gerson De Rodrigues“
„(…) não existe, talvez, nada mais assustador e mais sinistro em toda a pré-história do homem que a sua técnica para se lembrar das coisas.” Alguma coisa é impressa, para que permaneça na memória: apenas o que dói incessantemente é recordado” – este é uma proposição central da mais antiga (e, infelizmente, também a mais duradoura) filosofia na Terra. Uma pessoa pode até sentir-se tentada a dizer que algo deste horror – através da qual em tempos se fizeram promessas por toda a Terra e foram dadas garantias e empenhamentos -, algo disto ainda sobrevive sempre que a solenidade, seriedade, secretismo e cores sombrias se encontram na vida dos homens e das nações: o passado, o passado mais longo, mais profundo e mais desagradável, respira sobre nós e brota em nós sempre que nos tornamos “sérios”. As coisas nunca avançaram sem sangue, tortura e vítimas, quando o homem achou necessário forjar uma memória de si próprio. Os sacrifícios e as oferendas mais horrendos (…), as mutilações mais repulsivas (…), os rituais mais cruéis de todos os cultos religiosos ( e todas as religiões são, nas suas fundações mais profundas, sistemas de crueldade) – todas estas coisas tem origem naquele instinto que adivinhou que a mais poderosa ajuda da memória era a dor.Num certo sentido, todo o ascetismo faz parte disto: algumas ideias tem de tornar-se inextinguíveis, omnipresentes, inesquecíveis, “fixas” – com o objectivo de hipnotizar todo o sistema nervoso e intelecto através destas “ideias fixas” – e os procedimentos e formas de vida ascéticos são o meio de libertar essas ideias da competição com todas as outras ideias, para torna-las “inesquecíveis”. Quanto maior era a memoria da humanidade, mais assustadores parecem ser os seus costumes; a dureza dos códigos de punição, em particular, dá uma medida da quantidade de esforço que é necessária para triunfar sobre o esquecimento e tornar estes escravos efémeros da emoção e do desejo atentos a alguns requisitos primitivos de coabitação social. (…) Para dominar (…) recorreram a meios assustadores (…) de apedrejamento, (…), a empalação na estaca, a dilaceração ou o espezinhamento por cavalos, (…), queimar o criminoso em azeite (…), a prática popular de esfolamento, (…) cobrir o criminoso de mel e deixá-lo às moscas num sol abrasador. Com a ajuda deste tipo de imagens e procedimentos, a pessoa acaba por memorizar cinco ou seis “Não farei”, fazendo assim a promessa em troca das vantagens oferecidas pela sociedade. E de facto! com a ajuda deste tipo de memória, a pessoa acaba por “ver a razão”! Ah, razão, seriedade, domínio das emoções, todo o caso sombrio que dá pelo nome de pensamento, todos esses privilégios e exemplos do homem: que preço elevado que foi pago por eles! Quanto sangue e horror está no fundo de todas as “coisas boas”!“