„Poema – Memórias póstumasQuando eu disserque me cansei de todas as coisasnão tentem me salvarDeixem-me cortar os meus punhose sangrar até a luz do meio diaQuando perceberemque já estou mortoTransformem este diaem um feriado santoBatizem os seus filhosem meu sangueExibam o meu corpoem um altar de glória e poderProfiram mentiras em meu nomelembrem-se de memórias das quaiseu nunca viviE tampoucogostaria de tê-las vividoColoquem floressobre o meu tumuloGritem por todos os cantoso quanto sentem a minha faltaDigam‘’Amo-te mais do que todasas coisas’’Enquanto olham as minhas velhasfotografias de momentos dos quaispoderiam ter me dito tais palavras docesSim! Ascendam velasem meu nomeDigam aos meus parentes e amigosque sentem a minha faltaMas por favoresqueçam das vezesdas quais eu estava ao seu ladoEsqueçam de uma vez por todastodos os passos frios que dei porestas ruas vazias e cheias de ódioNão lembrem-se das minhasunhas arranhando estas paredes sujasenquanto clamava por ajudaFechem os olhos e tampem os ouvidostal como fizeram das vezesque supliquei em lágrimasLembrem-se das poucasvezes em que eu fui capaz de sorrirAh (…)quando eu caminharem direção aos vales distantesNão culparei nenhum de vocêspor não compreenderem os meus demôniosApenas deixarei que lembrem-sedas vezes que os transformei em canções poéticaspara os seus ouvidos surdos!Não se preocupem com as lágrimasou com as dores do meu ato finalContinuem rezandopara os seus deuses de mentiraVivendo suas vidas vaziase cheias de fortunaContinuem!suplico que continuem!em suas guerras ideológicasEsqueçam aqueles que como eumorreram abraçando suas próprias pernasEsqueçam-me de uma vez por todasenquanto lembram-sedo homem que eu nunca fui…“
„Poema – 1 Reis 19:3-4Sinfonias tristesvagam pelo universocomo as lágrimas nos olhosdaqueles que sofrem em silencioAcolhida pelas trevase renegada pelos deusesLilith havia sido amaldiçoadacom um abismo em seu coraçãoA sua vidaera como uma alegoria ao suicídioEnforcava-se na escuridãotodas as vezesque não conseguia encontrara luz das estrelasSentindo-sesozinha em um mundodo qual não escolheu viverTrancafiada nos cárceres privadosda sua própria menteera assombrada pelos mais terríveis demôniosAs paredes do seu quartojorravam o sanguedas suas tentativas de suicídioEmbora as suas lágrimasclamassem pela salvaçãodaquele terrível abismoA sua essênciabanhava-se na escuridãoEm seus olhos habitavamo desejo de dilacerar os seus punhosenquanto afogava-se em uma banheirarepleta de sangue e lágrimasMas em seu coraçãohaviam as chamas negras de uma fênixque renascia a cada segundoEntão ela se enforcavaem seus sonhos sublimesDeitava-se na camacom os olhos fechadosimaginando-se dependuradaenquanto matava as suas doresE ao abrir os olhosrepletos de lágrimashavia renascido mais uma vezAs feridas em seu peitoespalhavam-se como um câncerGritos ensurdecedores emanavamdas janelas daquele quarto hostil– Já tive o bastante, Senhor!matem-me sem nenhum perdão!pois não estão matando uma alma inocenteapenas crucificando as suas doresMas quem poderia escutá-la?quem poderia salvá-la?Não se pode salvar uma almaque sorri para o abismoe se banha em seu próprio sangueGritando aos deusesela sorriu pela ultima vezenquanto as suas angustiastornavam-se sinfonias tristesA vagar pelo universocomo as lágrimas nos olhosdaqueles que sofrem em silencio…- Gerson De Rodrigues“